Impactos da monocultura do dendê afetam Amazônia e trazem prejuízos não apenas para fauna e flora como para a saúde humana O óleo da palma, extraído da árvore comumente conhecida como dendezeiro, não seja encontrado com frequência em seu estado bruto, diariamente é consumido pelos brasileiros. Isso porque seus derivados, a oleína (líquida) e a estearina (sólida), utilizados pelas suas propriedades emolientes ou de formação de espuma, estão presentes em sorvetes, biscoitos, margarinas e outros alimentos. Cidadãos estão ingerindo, todos os dias, alimentos que possuem derivados do óleo da palma sem saber a procedência desses ingredientes, muito menos o impacto que seu cultivo gera para a natureza. A dona de casa Leidy Daianne, 39, diz nunca ter ouvido falar no óleo da palma, apesar de sempre ter ingerido alimentos que contém seus derivados: "Todos os alimentos que você afirma terem derivados do óleo estão em minha alimentação, mas não tinha conhecimento da proveniência dos ingredientes.” Como é possível que um produto não conhecido de forma geral seja tão nocivo à natureza? A falta de vínculo entre a comunicação e o meio rural tem gerado desconhecimento sobre assuntos ligados ao meio rural. Nesse sentido, faz-se necessário contextualizar o que é a monocultura para entender os aspectos e problemáticas da prática na plantação da palma. Monocultura A monocultura é o cultivo de somente uma espécie vegetativa em uma grande extensão de terra. Porém, mesmo que a monocultura seja lucrativa, pois permite o plantio em curto tempo, ela exige um preparo específico do solo, ou seja, para isso, toda a cobertura vegetal deve ser retirada. Após o desmatamento, o tratamento do solo consiste em um uso extensivo de defensivos agrícolas, somente então o produto será cultivado, repetidas vezes, nessa mesma extensão de terra. Empobrecimento e contaminação do solo O cultivo de uma única espécie pode acarretar na exaustão do solo, principalmente se esse cultivo se der de maneira sucessiva, sem pausas; os nutrientes se esgotarão, resultando no empobrecimento do solo. Segundo a produtora agrícola Esmerinda Assunção, 69, que trabalha no ramo da laranja, uma mesma espécie de planta deve ser cultivada de 2 a 3 vezes no máximo no mesmo solo. “Depois que você tiver atingido a quantidade máxima de vezes de cultivo, você deve tirar essa planta, trabalhar a terra, e semear outra espécie, somente então você poderá plantar a mesma espécie novamente”, ressaltou a plantadora. Para equilibrar a deficiência presente no solo é utilizado o fertilizante agrícola, que é um produto de origem mineral ou orgânica e de produção natural ou sintética, responsável por fornecer nutrientes para as plantas, em quantidades maiores do que o natural. Somado aos agrotóxicos, que possuem, segundo o INCA (Instituto Nacional de Câncer), função de matar insetos, larvas, fungos, carrapatos sob a justificativa de controlar as doenças provocadas por esses vetores e de regular o crescimento da vegetação, os fertilizantes podem se infiltrar e contaminar o solo, e consequentemente os lençóis freáticos. Envenenamento da água O acúmulo de agentes tóxicos nas águas próximas às usinas de produção de óleo da palma é decorrente tanto da absorção dos agrotóxicos pelo solo quanto pela ocorrência de chuvas. Produtora agrícola profissionalmente há 7 anos, Esmerinda Assunção diz que o solo necessita ser trabalhado a partir de fertilizantes, porém, a prática da monocultura exige muito do solo tornando-se necessária uma quantidade cada vez maior de fertilizante. De acordo com a agricultora, de forma saudável não há como insistir em plantar várias vezes a mesma espécie, pois a terra não irá dar fruto. A equipe do portal Mongabay visitou a terra indígena TI Turé-Mariquita, na estação seca da Amazônia, quando as empresas pulverizam agrotóxicos em grandes quantidades. Quando os níveis dos rios aumentam, inundam a área, acarretando no acúmulo de toxinas nos rios, em entrevista concedida ao portal em 2019, uma moradora da região, contou que presenciou um jovem, cujo trabalho era aplicar agrotóxicos nos dendezeiros, adoecer e falecer no hospital local. Dinheiro versus ética
Uma zona de amortecimento de 10 Km é prevista em lei para empreendimentos, como barragens, que podem impactar a população ao redor, porém, empresas no Pará alegam que a lei prevê esta zona apenas para unidades de preservação, e continuam prejudicando a vida de indígenas, sob a desculpa de que a lei não se refere a reservas indígenas. Porém a área de amortecimento visa a proteger a vida, e vidas estão sendo prejudicadas pela irresponsabilidade dos grandes produtores do óleo de palma, que estão mais preocupados com o dinheiro obtido através de um sistema que prejudicial. Em 2014, o Instituto Evandro Chagas publicou um relatório juntamente ao Ministério da Saúde que identificou agrotóxicos proibidos no país, em rios e igarapés próximos às plantações de dendê na região do Acará. Os pesquisadores coletaram amostras em 18 localidades aquáticas e identificaram a presença de agrotóxicos com ingredientes ativos ligados a distúrbios hormonais e câncer em 80% das amostras coletadas. Em 2018, Universidade Federal do Pará (UFPA) também detectou o herbicida glifosato em amostras de água coletadas no município de Tailândia, outro núcleo de produção de dendê no Pará. Sendo assim, não há como negar que a monocultura do óleo da palma é uma constante, que além de afetar a natureza afeta vidas humanas dos habitantes ao redor das plantações. Projeções para o futuro O consórcio Diverfarming é uma ferramenta gratuita de suporte a decisão, que se reúne para desenvolver e implantar estratégias inovadoras de agricultura e agronegócio. Foi criada na Europa, e seu conceito tem se expandido, apesar de ter sido elaborada visando A atender a UE (União Europeia). Em 2008, a empresa Natura uniu-se à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e à Cooperativa Agrícola Mista Tomé-Açu (Camta) para testar a viabilidade do cultivo agroecológico do dendezeiro em três localidades. Andrew Miccolis, coordenador nacional da World Agroforestry, faz parte desse grupo que estuda a incorporação do óleo dendezeiro em sistemas agroflorestais conjuntos, nos quais, as espécies se auxiliem reciprocamente. Ao ser contatado pelo portal Mongabay, em 2021, revelou que alguns agricultores começaram plantar a palma junto ao cacau ou pimenta-do-reino, mas foram proibidos pelas empresas, que alegavam que isso afastava o equipamento de produção do foco principal. Mesmo que ao final, os pesquisadores tenham demonstrado rendimentos maiores em 18 empresas com o cultivo diversificado, ainda há resistência em quebrar prática da monocultura, que tem sido realizada de maneira dominante no cultivo da palma. Andrew Miccolis chega a comparar os resultados dos dois modelos de plantação ao conversar com a equipe do Mongabay. “As amostras de solo apresentaram propriedades muito ricas e grande potencial de sequestro de carbono, semelhante às florestas secundárias – bem acima dos sistemas convencionais de monocultura.”. O que comprova a viabilidade de colocar em prática esse modelo mais ecológico de plantio. Por: Letícia Victória
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Entenda as causas dessa constante que afeta tantos moradores Enchente é um fenômeno da natureza que ocorre nos cursos de água, consistindo na elevação desses níveis. As enchentes decorrem da abundância de chuva recorrente, em determinado período do ano. A doutora em geografia física, professora Adorea Rebello, da UFAM, observa que a grande quantidade de chuvas na Amazônia é um fator natural que pode ser associado às condições de localização da região somadas a outros aspectos, como a cobertura vegetal, a grande bacia hidrográfica amazônica e as condições de relevo no setor oeste, estabelecidas pela Cordilheira dos Andes. Apesar do quantitativo de chuva ser de ordem natural, e causar as enchentes, as intervenções humanas ao longo da bacia hidrográfica são os maiores determinantes de devastação, pois ao ultrapassar os limites naturais da área em que vive, o ser humano altera o curso dos fenômenos. Entre as alterações do espaço natural realizadas pelo homem estão os sucessivos processos de urbanização. Manaus passou por rápido crescimento, sendo assim vários fatores auxiliaram para a acelerada urbanização. De acordo com a doutora Adorea Rebello, as questões associadas à urbanização envolvem formas equivocadas de planejamento territorial urbano que se manifestam desde o século XIX, quando os rios dessa cidade foram considerados obstáculos. Ela afirma que há dois processos em que as águas estão classificadas como empecilho, que são a expansão da estrutura e a superfície de áreas pavimentadas, pois havia a necessidade de construir vias de acesso às carruagens, aos bondes e, finalmente, aos ônibus e automóveis, e a ampliação das vias e acesso às moradias populares, como a construção do bairro do Parque Dez e posteriormente Cidade Nova. A ZFM (atual PIM) e suas consequências A criação da Zona Franca de Manaus (ZFM), em 1967, como área de livre comércio, com incentivos, ficais, no intuito de ocupar e desenvolver o território amazonense, significou um salto na economia e também trouxe a aceleração de ocupações irregulares, desmatamento e má utilização do solo. O desenvolvimento de Manaus, a partir da indústria, não considerou o planejamento, como destaca a doutora Adorea Rebello que, diante das demandas populacionais, os bairros foram sendo construídos acima dos recursos hídricos. Para a pesquisadora, “os rios foram aterrados e manilhas de diâmetro inadequado ao fluxo desses rios substituíram as estruturas de passagem dos canais e igarapés para dar lugar a construção de pontes”. Ressalta também que esse procedimento aumenta a vazão da água em pontos determinados e gera o extravasamento e o transbordamento da água das chuvas e dos canais hidrográficos, que é o caminho para onde a chuva é transportada ao atingir a superfície do solo. Essas ações, realizadas sem levar em consideração o curso dos rios, ainda estão refletidas na situação de vida dos moradores de Manaus nos dias atuais. A história se repete Todos os anos, no período de vazante dos rios, certas áreas da cidade são inundadas, e nos locais de alagamento sempre há grandes quantidades de lixo. Em entrevista a ex-moradora do bairro Alvorada, Elisabeth Gomes, mencionou que muitos dos seus vizinhos jogavam lixo pelas janelas. A doutora Adorea aponta o entupimento e a obstrução do sistema de drenagem, causados pela excessiva quantidade de resíduos sólidos doméstico, como uns dos principais fatores que causam os alagamentos. Segundo ela, a cidade de Manaus gera cerca de 72 mil toneladas de resíduos por mês (doméstico e industrial), e uma grande parte é descartada nos igarapés, obstruindo o fluxo da água e provocando alagamentos. Em dez anos, Manaus registrou seis das maiores dez cheias do rio Negro. Pesquisa realizada como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), pela aluna da Universidade Estado do Amazonas (UEA), Priscila de Miranda, os bairros que se destacaram como os mais suscetíveis a eventos de inundações foram Jorge Teixeira (Zona Leste), Terra Nova (Zona Norte), Educandos (Zona Sul), Tarumã (Zona Oeste), Alvorada (Zona Centro-Oeste) e Flores (Zona Centro-Sul). A partir desse estudo, conclui-se que todas as regiões da cidade são afetadas pela problemática das enchentes. Um mapeamento realizado, em 2021, pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e referendado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas (CAU/AM), revelou que 189.252 pessoas estão vivendo em áreas de riscos, sendo que 66.108 delas estão em áreas de em risco alto ou muito alto. Enquanto o governo não trabalha em políticas públicas para solucionar o problema, essas pessoas vivem em estado de constante apreensão. Beth Gomes disse ter morado no bairro Alvorada durante oito anos, e durante todo esse tempo não sabe dizer quantas vezes precisou trocar seus móveis por conta das enchentes. Entretanto, ela afirma que o medo constante não tinha relação com os bens materiais. Quando perguntada sobre o seu emocional em épocas de chuva ela disse: “Se era noite, não dormia com medo da água subir e morrermos afogados na enchente; era muita tristeza pela situação em que vivíamos e não tínhamos condições financeira para tirar nossa família de lá, era um perigo constante, fora o mau cheiro.” Para Adorea Rebello, é possível evitar alagamentos futuros se a decisão a ser tomada se der no campo ambiental, ou seja, de identificar as áreas suscetíveis de alagamentos e de novas estruturas de escoamento, bem como remover a população das áreas de risco, fundos de vales e margens dos rios.
Algumas soluções de curto prazo estão sendo desenvolvidas para remediar o problema até que a resolução esteja desenvolvida. O Google, juntamente com o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), lançou um sistema de previsão de enchentes, utilizando recursos de inteligência artificial (IA) e machine learning (ML) para apurar onde haverá inundações. Os alertas estarão disponíveis a partir de pesquisas no próprio Google, no Google Maps e no Floodhub, a nova plataforma de informações sobre as enchentes do navegador. Por Letícia Victória Entenda a desigualdade no acesso à saúde A definição de saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Além disso, o direito à saúde é um bem assegurado pelo Art. 196. da Constituição Federal de 1988, em que expõe que é dever do estado, mediante políticas sociais e econômicas, reduzir o risco de doenças e de outros agravos, bem como a promoção, a proteção e a recuperação de ações e serviços para a saúde. A saúde abrange uma gama de aspectos essenciais para cada indivíduo, seja ele pobre, rico, portador de deficiência ou não, independente da classe social. A criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988, exprime uma longa luta dos brasileiros, organizados, na defesa e garantia constitucional do acesso à saúde de qualidade no país. O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, abrangendo desde a distribuição de vacinas, realizada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), a transplantes de órgãos e as rotinas diárias de atendimento. A grandeza e a potência que o SUS carrega no território brasileiro, como observado na pandemia da Covid-19, há povos e segmentos sociais excluídos dos serviços disponíveis pelo Sistema, seja devido a circunstâncias inesperadas, seja em situações possíveis de serem solucionadas. Os ribeirinhos, residentes em municípios e/ou comunidades próximo. As de rios, são um dos exemplos de cidadãos impactados pela dificuldade de acessibilidade aos serviços básicos de saúde. Sob a alegação da falta de recursos, que deveriam ser fomentados pelas administrações públicas do estado e a exacerbação da distância dessas localidades como desculpa, centenas de famílias ribeirinhas estão impedidas de ter acesso normal ao SUS. O acesso a essas comunidades é feito por meio do transporte fluvial (barcos, canoas ou jatos, que são mais velozes). A mobilidade da equipe de saúde, assim como dos equipamentos, demora a chegar às comunidades, sofrendo atrasos por várias razões, desde a falta de um adequado planejamento, respeitando as especificidades desses lugares, até as chuvas mais intensas e ao regime de enchente/vazante, cheia/seca dos rios. Em entrevista à Agência Notícia do IBGE a moradora do município de Careiro da Várzea, situado a 20 km a Sul-Leste de Manaus, Ângela Maria, revela seu desejo perante aos serviços de saúde para o tratamento de sua cirurgia de catarata, assim como para a comunidade: “Ter um posto de saúde melhor melhoraria a situação, porque nosso posto é muito básico. Tenho que me deslocar constantemente para Manaus para me consultar com o médico”, expõe. Assim como os ribeirinhos, profissionais da saúde que trabalham na comunidade também relatam a dificuldade do acesso aos pacientes. A psicóloga Rosana Karine Simas Araújo, de 40 anos, que trabalha na prefeitura municipal de Careiro da Várzea, no distrito Terra Nova, salienta que além do demorado atendimento aos municípios, o alcance da internet prejudica as consultas. “Sou psicóloga e, às vezes, necessitamos de atendimento com psiquiatra. Dessa forma, precisamos de uma rede de WI-FI, mas a internet possui muita instabilidade, não chega aos barcos, mesmo o município estando somente a 25 km distante de Manaus. A rede de telefonia tem enorme oscilação não sendo possível realizar as consultas via telemedicina, fazendo com que o paciente tenha que se deslocar para a sede de outro município”, aponta a psicóloga. A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) implantou, no início da pandemia da Covid-19 o Programa Saúde na Floresta (PSF). Projetado para ampliar a rede de acesso de saúde a distância para comunidades ribeirinhas e indígenas, o programa instala pontos de internet nas comunidades, facilitando as consultas por telessaúde, como as da psicóloga Rosana Karine Simas Araújo, assim como instala pontos de inclusão digital para os territórios indígenas. As ferramentas utilizadas vão de antenas de acesso à internet via satélite, painel solar para geração de energia elétrica, gerador backups de segurança e computadores portáteis. De acordo com o site Mosaico: Portal de dados do Investimento Social, a diversidade do apoio a saúde de qualidade do PSF compõe três formatos de apoio remoto: teleducação para profissionais de saúde; teleorientação para esclarecimento de dúvidas sobre protocolos em combate à Covid-19; teleatendimento médico ou psicológico entre os profissionais de saúde e seus pacientes.
Por: Thamires Bandeira Liberdade e dependência da classe de guardadores de carros Os flanelinhas são figuras presentes no cotidiano das metrópoles brasileiras. Sua função principal é o de vigiar veículos em via pública em troca de uma remuneração a ser paga pelo condutor. De acordo com a Associação dos Guardadores e Lavadores Autônomos do Amazonas (AGLAVAM), a maior metrópole da região Norte, Manaus possui mil flanelinhas regularizados na associação, trabalhando em todas as zonas da cidade, mas um problema enfrentado pela classe é de pessoas que usam da função para cometer crimes e extorquir dinheiro dos motoristas. Operação Rio Javari Na Operação Rio Javari, deflagrada no início do mês de junho pela Polícia Militar, por meio de ocorrências feitas pela população por conta de denúncias alegando que flanelinhas estavam constrangendo e cobrando valores abusivos nos arredores do Centro Social Urbano (CSU) do Parque Dez, na zona centro-sul de Manaus. Foram detidos sete guardadores de carros, com idade entre 25 a 50 anos. Entre os flanelinhas, um deles estava com três mandados de prisão em aberto pelo crime de homicídio. De acordo com a estudante de Relações Públicas da Universidade Federal do Amazonas, Thamires Bandeira, que estava no local, durante festas ocorridas no CSU - o preço cobrado por um dos flanelinhas presentes foi muito alto, 20 Reais. “Eu estava com a minha família, e no início eles são super receptivos, mas na hora de irmos, meu pai foi abordado por um flanelinha pedindo um valor mais alto, pois estava ali duas horas guardando os carros e que merecia mais pelo seu serviço. Meus pais se sentiram muito incomodados com a situação, e pela forma de abordagem, eles preferiram dar o dinheiro”. Projeto Flanelinha Legal/Zona Azul
Em 2019, a Aglavam e a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM), com o objetivo de evitar essa atuação de infratores, criaram o projeto ‘Flanelinha Legal’, com o intuito de identificar os trabalhadores que atuam como flanelinhas, principalmente na zona Sul da cidade. Em nova fase da ação “Flanelinha Legal”, o Comando de Policiamento de Área da Zona Sul (CPA Sul) e a Aglavam entregaram camisas de identificação para os guardadores de carros utilizarem durante o serviço, gerando uma sensação de segurança aos motoristas. De acordo com o comandante do CPA-Sul, tenente-coronel Leandro Benevides, além de contar com informações da categoria, o projeto também atua com orientações e com a entrega de materiais, buscando identificar os verdadeiros flanelinhas com a utilização de crachás e fardamentos. Em entrevista ao Jornal Acrítica em 2019, o comandante disse que: “Tudo isso é para termos um controle maior em virtude de denúncias que vêm chegando por parte da própria população”. Projeto de Lei e a Proibição dos Flanelinhas Desfavorecendo a classe, em 2014, a Câmara Municipal de Manaus (CMM-AM) discutiu um projeto para a proibição da atuação dos limpadores de parabrisa nos espaços públicos da cidade, em que essa classe de trabalhadores teve suas atividades encerradas por meio do Projeto de Lei n 131//2014. A situação é séria e precisa de mais debate em torno da atuação dos flanelinhas. Por Richard Meireles Após um sistema de atualização de bilhetagem eletrônica, os usuários de transporte coletivo perceberam a mudança na sua rotina O uso do transporte coletivo faz parte da rotina da maioria dos manauaras, por isso a cada momento é necessário estar atento ao que está acontecendo nas paradas de Manaus. O usuário possui uma participação sobre o serviço, estabelecendo um juízo de valor sobre a qualidade do serviço que está sendo oferecido. O sistema de transporte coletivo de Manaus no dia 12 de Junho passou por uma atualização que causou muitas reclamações e constrangimentos para os passageiros. O transporte coletivo de Manaus é operado por nove empresas que juntas administram 230 linhas, atendendo a 800 mil passageiros em dias úteis. No serviço convencional, a tarifa cobrada é R$ 3,80 (inteira) e R$ 1,50 (estudantes). Além das empresas que atuam no sistema convencional, há também o serviço de transporte Alternativo (amarelinhos) e o Executivo que cobra tarifa diferenciada. No transporte Executivo, a tarifa é R$ 4,20 e no Alternativo que atende somente aos bairros e comunidades da zona Leste de Manaus, a tarifa é R$ 3,80. O sistema Alternativo possui 24 linhas e o Executivo opera com 27 linhas em todas as zonas da capital. Sinetram e o caos do sistema O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Amazonas — Sinetram representa o consórcio de empresas autorizadas a explorar o serviço de transporte coletivo da cidade de Manaus. É responsabilidade do sindicato dos empresários assegurar serviços para os usuários do sistema de meia-passagem estudantil e vale-cidadão como formas de eficácia na mobilidade urbana (https://www.sinetram.com.br/p/servicos). Implementado no mês de Janeiro de 2017 o aplicativo ‘Cadê Meu Ônibus?’ e a recarga via PIX pelo o canal do WhatsApp lançado em 2020 durante o pico da pandemia COVID-19, o Sinetram adotou mais medidas de atualização para otimizar os seus serviços, contudo, gerando ainda falhas nos canais da mensagem e em seu conteúdo, tornando - se um problema quando atinge grande parte da população manauara. Na última semana de Junho de 2022, o Sinetram adotou um novo sistema de bilhetagem eletrônico com a troca do aparelho que o usuário usa como forma de pagamento. Houve muitos relatos de que o problema causou caos e desconforto, além disso, até as empresas prestadoras de serviços perceberam que a mudança provocou uma mudança nos passageiros. O cobrador da empresa ‘Expresso Coroado’ Raimundo Matheus Coelho da Costa da linha 540 relata que a nova atualização “é vantajosa, mesmo com certos problemas que estamos enfrentando”. Ressalta ainda que o novo sistema de bilhetagem resolve certos problemas para o usuário. Contudo, nas redes sociais, o estudante Victor Hugo Lemos da Silva, que cursa a graduação Jornalismo na Universidade Federal do Amazonas — UFAM, afirma que “tenho a impressão que a catraca demora mais para ser destravada, além disso, já vi caso de pessoas terem que passar duas vezes o vale-transporte para a catraca destravar, atrasando ainda mais o embarque”. Os problemas nos transportes coletivos não são atuais para os passageiros porque sempre houve falhas no sistema que dificultam o acesso para ônibus ou benefício. Ônibus velhos, lotados e horas de espera nas paradas e terminais de integração. Esses problemas são comuns e enfrentados por quem depende do transporte coletivo para se locomover por Manaus. Um problema que não acaba Informações do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Amazonas (Sinetram), 800 mil pessoas utilizam o transporte público diariamente na cidade. E não é muito difícil de encontrar, nas paradas e terminais de ônibus, relatos de usuários que sofrem com um serviço caro e ineficiente e comprovam - e explicam - os dados apresentados pela pesquisa da Projeta. Segundo Victor Hugo, estudante do curso de Jornalismo da UFAM, “o uso do transporte coletivo está presente cotidianamente, contudo, desde a atualização da catraca eletrônica, tem levado dinheiro em espécie porque antes disso, usava somente esporadicamente”. Após essa atualização, nota-se que o passageiro não ficou feliz e notificou nas redes sociais ‘Twitter’ o descontentamento que aconteceu: A passageira Nedra Sued Cruz Vieira, estudante de Jornalismo também da UFAM, pontua sua situação quando houve essa atualização e necessitou ir à sede Sinetram no bairro Centro para verificar o que estava ocorrendo na sua carteirinha. Ela relata que “falaram que eu deveria segurar a carteirinha no sistema até passar, mas ao invés disso, ocorreu que estavam sumindo os meus créditos”. Acrescenta também que usa ônibus desde 2019 e essa foi a primeira vez que ocorreram falhas.
Na sede Sinetram, localizada na Avenida Constantino Nery - Chapada, houve casos diferenciados desta situação que causou problemas diferenciados, alguns houve uma falha na carteirinha de gratuidade de estudantes da rede pública de ensino, outros foram a parte de “comendo os créditos" pagos e ainda aqueles que não apareciam saldo ou estava dando insuficiente. De acordo com o cobrador de ônibus Raimundo, “além da superlotação um grande problema é o troco, obviamente o usuário está no direito de exigir seu troco. Entretanto há um grande problema com moedas no transporte coletivo.” Dito isso, os passageiros que estavam nessa situação, optaram por pagar a passagem inteira para locomover-se, contudo, segundo a estudante Nedra "há casos de questionamentos ao motorista e cobrador na hora de ativar na hora do pagamento na catraca eletrônica.”. Outro ponto que é visto se trata do atendimento tanto da sede Sinetram quanto no ônibus. Na sede Sinetram, o número reduzido de atendentes e a falta de resposta causa filas imensas e demoradas, ao contrário no transporte coletivo a reclamação acontece pela falta de empatia dos prestadores de serviços que não sabem dialogar e começam ofender passageiros. Soluções para os usuários É evidente que o transporte coletivo não é um luxo, mas uma questão de sobrevivência. As plataformas do Sinetram como site, e-mail, WhatsApp e aplicativo ‘Cadê meu ônibus?’ não resolveram os casos que ocorreram durante a atualização da catraca eletrônica, aliás, eles foram causadores da falta de informação que poderiam evitar os constrangimentos. O cobrador Raimundo Matheus afirma que “não há respaldo das empresas de transportes sobre a situação porque elas não são responsáveis pela falha do sistema de bilhetagem.”. Portanto, a falha que o Sinetram causou poderiam ter outros caminhos para a população como o uso das redes sociais em informar e divulgar com antecedência a mudança do sistema. A estudante Nedra Sued afirma que a empresa deve “otimizar seus canais de comunicação virtuais, pois hoje as pessoas não têm mais tempo de ir à sede Sinetram para resolver problemas que poderiam ser feitos no celular.”. Nedra afirma também, que as empresas possuem culpa por não instruir os usuários para utilização do sistema, confirmando que “se foi a atualização da carteirinha física, poderiam ter avisado com antecedência por meio das redes sociais ou cartazes no transporte.” Em contrapartida, o estudante Victor Hugo solicita infraestrutura de qualidade para compor esse novo sistema “não sei se é da competência deles, mas eu gostaria de ônibus com ar condicionado e insulfilm nos vidros.”. A atualização de bilhetagem eletrônica poderia funcionar, contudo, que o ônibus seja de qualidade ao usuário que sofre constantemente no cotidiano manauara. Por Cariston de Souza Pires O Polo Industrial de Manaus é um espaço de estímulo de fabricação e comercialização, com o intuito de atrair empresas estrangeiras e nacionais para se instalarem na região, fabricar produtos e aumentar a produção industrial no Brasil, e, em troca, serão removidos impostos e terão benefícios garantidos para as marcas. Inicialmente, o território da Zona Franca incluía uma área contínua com uma superfície mínima de dez mil quilômetros quadrados, incluindo a cidade de Manaus e seus arredores, na qual se instalou o Polo Industrial. Mas, ao longo dos anos, expandiu benefícios para os estados do Acre, Rondônia e Roraima, que é a chamada Amazônia Ocidental, além das cidades de Macapá e Santana, no Amapá. Em 1964, o ex-presidente Humberto de Alencar Castelo Branco era contra a ocupação estrangeira da Amazônia e criou o decreto-lei 288/67, que amplia e oficializa o Polo Industrial de Manaus, confirmando os benefícios fiscais para as empresas que se instalarem na região por 30 anos, criando também a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), entidade responsável por gerenciar, divulgar e manter a área. Em agosto de 2014, os benefícios da ZFM foram prorrogados até 2073 (esse também foi o melhor ano do faturamento de PIM da região, sendo registrado um faturamento de R$ 80,2 bilhões entre os meses de janeiro e novembro desse ano). Além de ser a base econômica da região em que se encontra, o PIM também é um dos mais modernos polos industriais da América Latina. Permitiu o início das operações de várias empresas estrangeiras no Brasil, fortaleceu a indústria nacional e diminuiu a dependência que o país tinha com essas empresas. Tornou-se referência em mercados como eletroeletrônicos, informática e refrigerante. Também gerou empregos, estimulou o turismo e tem um papel ambiental na preservação da floresta amazônica e para o desenvolvimento das comunidades de seus arredores. A redução dos impostos decretada pelo governo federal tem como objetivo contribuir com a reindustrialização do país e a produção de novos empregos. No entanto, essa redução atinge, não somente os produtos nacionais, como também os importados, produtos esses que competem com as indústrias que produzem no país, em especial com as do Polo Industrial. As empresas que estão instaladas na ZFM são, em sua maioria, grandes multinacionais que estão gerando empregos para brasileiros. A insegurança jurídica e a falta de estabilidade e previsibilidade poderiam levar a essas multinacionais a retirar as suas fábricas do Brasil e passar a exportar os seus produtos para o país. Logo, os empregos gerados por essas empresas deixariam de existir. Segundo o especialista de negócios no setor industrial Saulo Maciel, que já trabalha há 11 anos na Zona Franca com experiência em contratos, políticas corporativas, análise e gestão de projetos, planejamento tático e estratégico, gestão e controle, essa redução não afeta apenas os empregos dos amazonenses, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) também corre riscos. Em entrevista ao Ateliê Amazônico, Saulo Maciel explica a importância do PIM para a Região.
Ateliê Amazônico: De que forma a redução do IPI pode afetar a UEA? A Universidade corre o risco de fechar? Saulo Maciel: Boa pergunta. A UEA teria a sua receita ou a maior parte dela cessada, pois é mantida por lei (Lei nº 2.826/2003) do estado do AM, que estabeleceu a contribuição para a universidade em contrapartida ao benefício fiscal estadual. Se as indústrias deixarem o PIM o prejuízo à universidade é enorme, podendo ser uma realidade provável o seu fechamento. Ateliê Amazônico: O Amazonas sobrevive sem a Zona Franca? Saulo Maciel: Hoje, não seria muito diferente do que vivemos com o fim do ciclo da borracha, tendo em vista que o modelo ZFM é focado no consumo interno e responde por mais de 80% da arrecadação do Amazonas. É importante manter em mente que toda a economia que deseja ser forte e crescer precisa ter um polo industrial. A indústria é o maior termômetro do desenvolvimento econômico e social. Não é possível substituir o modelo, mas diversificar para outras matrizes que se somem a ele trazendo ainda mais investimentos desenvolvimento para o nosso estado. Ateliê Amazônico: Qual a sua opinião profissional em relação ao decreto do presidente sobre a redução dos impostos? Saulo Maciel: A redução dos impostos não é ruim para o país, desde que seja feita com planejamento, boa vontade e resguarde os produtos fabricados na ZFM. A ZFM é um projeto para o país, para garantir a soberania no território, sendo todo o impacto financeiro e de desenvolvimento um efeito colateral positivo para a economia do AM e do resto do país. Não respeitar a excepcionalidade dos produtos aqui produzidos é, no mínimo, inviabilizar um modelo estabelecido constitucionalmente e marginalizar mais de 500 mil famílias. Atualmente, a Polo Industrial de Manaus emprega mais de 100 mil trabalhadores diretos e concentra cerca de 500 empresas. Apesar de todos os debates sobre os impactos que a redução do IPI pode causar no Amazonas, o governo ampliou em 35% a redução desses impostos. Por Laura Santiago A dura realidade de quem vive nas invasões cheias de criminalidade Famílias que não possuem condições de comprar ou alugar uma moradia são obrigadas a ocupar terras irregulares, ou seja, as invasões. Essas famílias vivem uma realidade sombria, sem o mínimo de infraestrutura e saneamento básico: sem acesso à água potável, à energia elétrica e à mobilidade urbana. Como, na maioria das vezes, essas terras possuem donos, as famílias precisam levantar barracos e construir casas em áreas protegidas. Além de serem cercadas por criminalidade, dominadas por traficantes e sem nenhum tipo de segurança. De acordo com o IGBE, em 2019, a capital do Amazonas possuía 653.218 domicílios ocupados, desse total, 53,8% estão aglomerados em favelas e invasões, ou seja, são 348.684 de pessoas vivendo em áreas de invasão em Manaus. Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Sema), Manaus possui mais de 55 áreas invadidas que continuam a crescer ano após ano à medida em que a população manauara aumenta. Uma das invasões mais famosas da cidade é o Monte Horebe, localizado na Zona Norte de Manaus. A área é considerada como uma das maiores ocupações irregulares da cidade. Em 2020, a reintegração de posse do Monte Horebe, proposta pelo Governo, por meio da Secretaria de Segurança Pública (SSP) e órgãos de assistência social, deu amparo a mais de 2 mil famílias que habitavam a invasão, conseguindo as levar para longe da alta criminalidade do local. Além do perigo às vidas dessas famílias, as invasões trazem outra adversidade, como a questão ambiental. Áreas de preservação ambiental na capital vêm sofrendo muito com as devastações causadas pelas ações dos que as invadem, que derrubam hectares de florestas para poder habitar. A reserva florestal Adolpho Ducke, localizada no bairro cidade de Deus, é a maior fragmento de floresta nativa da área urbana do município, mas que sofre com as invasões próximas a ela. Na comunidade Nossa Senhora de Fatima II, zona Norte de Manaus, a dona de casa Maria Emanuele Sousa Oliveira, que mora há mais de 13 anos, concedeu ao Ateliê uma entrevista.
Ateliê Amazônico: A senhora recorda como era a situação da invasão quando vocês chegaram? Maria Emanuele: Quando nós chegamos lá não tinha nem asfalto, era só barro. Não tinha pavimentação, tinham muitas árvores e, até hoje, têm muito barranco. Ainda têm muitas casas em barrancos, e a invasão continua crescendo. A questão da eletricidade também continua muito ruim até hoje. Sempre acaba a luz porque também todo mundo faz “gato” para pegar energia. Ateliê Amazônico: Houve alguma melhoria nesses anos? Maria Emanuela: A principal foi o asfalto na rua, e também esporte para as crianças que moram lá. Ateliê Amazônico: Os órgãos governamentais prestam algum serviço à comunidade? Maria Emanuela: Não, nenhum. O governo e os políticos só aparecem em tempos de eleição para fazer campanha. Ateliê Amazônico: Como é a questão da segurança? Maria Emanuela: A questão da segurança é zero. É muito raro você ver uma viatura passando. Eu costumo dizer que quem toma conta da comunidade são os traficantes; eles que dominam lá. Todas essas invasões revelam a falta de planos de habitação em Manaus, apesar de ser assegurado pela Constituição Federal de 1988 o direito à moradia, como uma competência dos Estados e Municípios, assim como aponta o texto constitucional: “promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico”. Por Victor Zidane A extração mineral na Amazônia A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, é conhecida pela sua inigualável biodiversidade. Possuindo exuberante fauna e flora, bacia hidrográfica com maior volume de água doce do planeta, e riquíssima cultura local, a floresta é alvo frequente de ações que visam a usufruir a retirada de seus recursos naturais. Algumas das atividades econômicas da Amazônia são: extração de madeira e minério, uso de territórios para atividade agrícola/pecuária, turismo e geração de energia elétrica. No entanto, o extrativismo mineral vem sendo debatido com frequência nos últimos anos, Isso porque a atividade está causando impactos consideráveis no bioma amazônico, sendo, por exemplo, responsável pelo desmatamento de uma área correspondente a 405,36 km² da Amazônia Legal nos últimos seis anos. A mineração na Amazônia Projetos de extrativismo mínero-metalúrgico tiveram um impacto positivo na economia da Região Norte, a partir da década de 70. Hoje, os minérios extraídos são o ferro, o ouro, o estanho, o manganês, o nióbio e o tântalo, a bauxita (alumínio), o gás natural, os diamantes e as pedras preciosas. Atualmente, os estados do Pará e Mato Grosso protagonizam a mineração na Amazônia, que ocorre mais precisamente entre as bacias dos rios Tapajós e do Xingu. O Pará tornou-se, nas últimas décadas, o segundo maior produtor mineral no Brasil, atrás somente de Minas Gerais, que atua na mineração há mais de um século. Com jazidas de ferro, bauxita, manganês e cobre, os minérios são o principal recurso exportado do Estado. As maiores minas da região são a de Oriximiná, que exporta bauxita, e a de Serra dos Carajás. Impactos da mineração Apesar das grandes empresas do setor de mineração adotarem discursos sustentáveis e a favor do meio ambiente, é inegável a devastação do ecossistema causada pela atividade extrativista. Segundo a resolução 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) o impacto ambiental é caracterizado como: “[…] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam o bem-estar e a saúde da população; as atividades socioeconômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais.”
Alguns dos impactos do, popularmente conhecido, “garimpo” incluem: poluição da bacia hidrográfica; redução da biodiversidade local; impacto social de comunidades urbanas, comunidades ribeirinhas, comunidades quilombolas e comunidades indígenas; geração de rejeitos; abertura para atividades ilegais na floresta; poluição sonora; manejo inadequado de resíduos. Debate O Geólogo e Professor do departamento de Geociências da UFAM, Raimundo Humberto Cavalcante, cita a importância da mineração para a civilização moderna e a economia brasileira, ressaltando a responsabilidade social e os preceitos do desenvolvimento sustentável como fatores indispensáveis do extrativismo mineral. “Entendemos que a mineração traz benefícios para a economia, ao mesmo tempo temos que avaliar muito bem sua exploração e beneficiamento dos minérios. Por isso, é necessário encontrar alternativas para fazer uma mineração mais responsável e minimizar os danos provocados. Esforços para proteger as comunidades locais e melhorar as práticas de mineração também devem ser mantidos em toda a cadeia de processamento de minerais e durante o tempo de funcionamento da mina”, aponta o Geólogo. O pesquisador realiza projetos de geoturismo, que promovem a conscientização de turistas acerca da preservação do patrimônio geológico e geomorfológico. Envolvendo pesquisadores de todo Brasil, o projeto ocorre nos municípios de Presidente Figueiredo, Novo Airão e São Gabriel da Cachoeira e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A mineração na Amazônia divide opiniões em um embate entre economia e meio ambiente. É válido salientar que, apesar da importância da extração mineral no contexto econômico no Brasil, os efeitos e a degradação da floresta Amazônica são inestimáveis. É importante promover o desenvolvimento econômico da Região assegurando a preservação das riquezas naturais. Por Beatriz Farias Antes limpos, hoje sujos: A questão dos igarapés Amazônicos Na língua tupi, a palavra ir-rapé (aportuguesada como igarapé) significa ‘’caminho d'água''. Nesses córregos hídricos de baixa profundidade – que estão presentes em grande parte da Bacia Amazônica – vemos, nos dias de hoje, em suas águas que outrora foram cristalinas, o reflexo da ausência do planejamento urbano nas metrópoles da Região Norte. Por serem presentes em toda a Amazônia, os igarapés são importantes meios de transporte (dada a importância da nossa malha hidroviária) para os povos tradicionais da Amazônia, como os ribeirinhos e os indígenas, assim como para os comerciantes de pequenas e médias embarcações. Além da questão econômica, esses cursos d’água também são peças fundamentais para a manutenção da nossa diversidade aquática, já que um pequeno igarapé pode abrigar inúmeras espécies de animais e plantas. Segundo o professor Marcos Castro, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas, a poluição dos igarapés nos impede de crescermos num importante segmento econômico: o do turismo ecológico. ‘’Estamos, infelizmente, perdendo a oportunidade de crescermos (ainda mais) turisticamente por não cuidarmos adequadamente dos nossos igarapés”. O papel do ser humano A partir da década de 1970, com a criação da zona industrial de Manaus, a Zona Franca, milhares de empregos foram criados na capital amazonense. Logo, a região metropolitana da cidade recebeu – sem a infraestrutura adequada – milhares de migrantes dos municípios do interior do Amazonas (principalmente das camadas mais pobres). Como não foram criados complexos habitacionais para esses novos moradores, muitos se estabeleceram às margens dos igarapés. Mas engana-se quem pensa que somente a população periférica é responsável pela poluição dos igarapés. ‘’Empresas da zona industrial e condomínios de alto padrão também poluem os igarapés’’, afirma o professor Castro, que integra o Núcleo de Pesquisas Urbanas e Regionais da UEA. Os igarapés são importantes para a drenagem natural durante a estação chuvosa, segundo os especialistas. Ainda de acordo com o professor Castro, se a questão não for tratada de forma apropriada, a inundação da cidade só tende a piorar, especialmente com as mudanças climáticas. “Isso levará a maiores problemas de saúde pública em longo prazo”, diz ele, citando doenças que proliferam com as águas sujas, como a micose, a leptospirose e a hepatite. Ainda sobre a temática ambiental, a equipe do Ateliê Amazônico entrevistou a profª Dra. Adoréa Rebello da Cunha Albuquerque, atualmente professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas, que atua (principalmente) nas áreas de conservação do meio-ambiente e diagnóstico ambiental. Com a professora Adoréa, conversamos sobre a importância ecológica dos igarapés para o Bioma Amazônico. Ateliê Amazônico - Qual a importância dos igarapés para o bioma amazônico? Professora Adoréa - Os igarapés são canais hidrográficos de pequena dimensão, o que não invalida a sua importância no Bioma Amazônico. Na verdade, são partes que constituem um grande sistema de drenagem denominado Bacia Amazônica. Obviamente, esses pequenos cursos de águas além de abrigarem tipos específicos de flora e fauna locais, são verdadeiros sistemas de arrefecimento das elevadas temperaturas em grandes áreas urbanas. São indicadores da qualidade da água, por processos de cobertura vegetal em excesso, neste caso citam-se os murerus ou Eichhornia crassipes. São sistemas de circulação da água e impedem as inundações, caso as margens sejam mantidas sem ocupação, pois o papel das margens é justamente receber a água transportada para a bacia hidrográfica, no que denominamos de leito maior. Ademais, quando bem cuidados pelo poder público são embelezadores naturais de praças e jardins. Ateliê Amazônico - Se possível, comente acerca das consequências ambientais da poluição desse curso d'água (não só para os seres humanos que moram nas beiras dos igarapés, como também para as espécies endêmicas da nossa região). Professora Adoréa - Infelizmente, remover a população é necessário. A situação do risco de doenças diarréicas e outras de veiculação hídrica como as dermatites de contato, por exemplo, é elevada. No atual estado em que os rios urbanos se encontram, precisamos remover a população com urgência. Temos apenas uma ETE (estação de tratamento de efluentes na cidade de Manaus), que ainda vai entrar em operação recebendo os resíduos de fezes e urinas de 16 bairros, algo que desagradou profundamente quem mora no Educandos. Enfim, são os conflitos que se estabelecem entre os sujeitos e a função da água, neste caso para esgotamento sanitário. Ateliê Amazônico - Há – por mais que remota – alguma possibilidade de recuperar os igarapés poluídos da cidade de Manaus, como o Igarapé do Educandos?
Professora Adoréa - A revitalização é possível, rios como o Sena e o Tamisa, foram focos de malária no final do século XIX. Entretanto, a responsabilidade política e a arquitetura moderna de construção da Torre Eiffel, por exemplo, transformaram aquele espaço em um local de apreciação turística e cenário de filmes. A Coréia do Sul, cuida dos seus rios urbanos e desmontou viadutos para recuperá-los. Enfim, falta vontade política e esforço coletivo do cidadão. O Igarapé do Educandos pode ser revitalizado como Sena, porém, plenamente recuperado vai demorar algumas décadas. Por Caio Profiro A Rodovia Álvaro Maia, conhecida como BR-319, foi construída durante a ditadura militar (1964-1985), sendo inaugurada em 1976. A rodovia corta a floresta amazônica ligando os estados do Amazonas e de Rondônia, e, a partir de Porto Velho, ao restante do País. A rodovia ficou intransitável em 1988, sendo desativada em razão ao alto custo de manutenção e tráfego insuficiente que justificasse o investimento em manutenção. A BR-319 Com 885 quilômetros de extensão, a rodovia percorre os municípios amazonenses de Borba, Beruri, Manicoré, Tapauá, Canutama e Humaitá. O objetivo de sua construção era facilitar a migração para a Amazônia e integrá-la ao resto do País e, por isso, em 1970 a rodovia foi incluída no Programa de Integração Nacional – PIN do Governo Federal. A estrada, durante seu pleno funcionamento, cumpriu a proposta inicial, proporcionando rota entre Amazonas e o restante do Brasil, e ampliando o transporte de cargas - que até então ocorria exclusivamente por meio dos rios - para o modelo rodoviário. No entanto, a construção da BR-319 é marcada por críticas quanto aos seus impactos físicos, ambientais e sociais. Localizada no coração da Floresta Amazônica, a rodovia revela ser uma ameaça à fauna, à flora e ao bioma amazônico, que abriga milhares de espécies inclusive ameaçadas de extinção. Além disso, as populações indígenas que habitam a região temem as consequências da repavimentação da rodovia. Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), foram investidos mais de R$80 milhões em estudos ambientais para a realização das obras. Em estudo, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, afirma: “Uma vez novamente trafegável, a BR-319 facilitaria a migração do “Arco do Desmatamento”, do sul da Região Amazônica, para novas e mais distantes fronteiras ao norte com os impactos excedendo os limites do Amazonas e chegando até Roraima”. Os estudos de impacto Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), foram investidos mais de R$80 milhões em estudos ambientais para a realização das obras. Em estudo, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia, afirma: “Uma vez novamente trafegável, a BR-319 facilitaria a migração do “Arco do Desmatamento”, do sul da Região Amazônica, para novas e mais distantes fronteiras ao norte com os impactos excedendo os limites do Amazonas e chegando até Roraima”. Todavia, além dos impactos ambientais, a pavimentação da BR-319 não se demonstra viável economicamente. Um levantamento realizado pelo Conservation Strategy Fund indicou que a rodovia causaria prejuízo atualizado de até 316 milhões de reais em um período de 25 anos, sendo o modelo vigente de exportação fluvial mais acessível. Segundo relatório do Ministério da Infraestrutura, publicado em 2021, o valor total das obras custariam R$1,4 bi, sendo esta quantia destinada a custos com projetos de engenharia, estudos compensações ambientais. Ainda de acordo com o relatório, as etapas da obra serão: Instalação de canteiros de obras, terraplanagem, drenagem, pavimentação, sinalização e obras complementares, recuperação ambiental das áreas utilizadas nas obras, e finalização. Serão construídas, ainda, construídas 71 pontes para passagem sob rios e igarapés, 243 passagens de fauna e 49 passagens aéreas de fauna. O documento reforça a existência de Unidades de Conservação Federais e Estaduais que cercam a BR. “A presença e manutenção dessas áreas diminuem bastante as chances de desmatamentos na região, preservando a fauna (animais) e a flora (plantas)”, aponta o Relatório. Com média anual de 2.500 mm por ano, a área correspondente à BR-319 recebe grande quantidade de chuvas, sendo esse um dos grandes desafios para quem trafega na rodovia. O clima equatorial, característico da Região Amazônica, é marcado por altas temperaturas e regime de chuvas intenso. As estações são definidas por Verão Amazônico (menor quantidade de chuva, durando de junho a outubro) e Inverno Amazônico (grande quantidade de chuvas, entre outubro e maio). Uma estrada em debate O debate acerca das obras de pavimentação da BR-319 é intenso. Fruto de um plano de governo desde sua criação, a construção ou não da rodovia é pauta política nas Câmaras e no Senado. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) listou os impactos positivos e negativos da não realização das obras de pavimentação da BR-319. Veja no quadro a seguir: A favor da BR-319 Em entrevista ao Ateliê Amazônico, o presidente da Associação Amigos da BR-319, André Marsílio, apresenta a perspectiva daqueles que defendem a pavimentação do “trecho do meio” (entre os km 250 e 655,7) da rodovia. “O movimento vai além da luta pela pavimentação, nós também temos outras lutas em comum, como a preservação da nossa fauna e flora”. A respeito da dificuldade de trafegar pela rodovia no inverno amazônico, Marsílio afirma: “Há muito tempo atrás quando começava a chover já parava a estrada, não passava mais nenhum tipo de carro. Ao longo dos últimos 4 anos, dos 6 meses de chuva, em pelo menos 3 meses é possível andar. Hoje tem passado caminhonete com pneu traçado em todo período de chuva. Os prejuízos anos atrás eram inúmeros: água entrando no motor, o radiador era furado, e muitas vezes não tinha mais condições de usar o carro. Hoje em dia os danos são menores, e somente durante o período chuvoso.”
A Associação Amigos da BR-319 foi criada em 1980, retomou as atividades com respaldo jurídico em 2016. Possui 9,469 associados, 40 grupos no Whatsapp e 60 mil seguidores no Facebook. O movimento representa os defensores da BR-319, colhendo quase 100 mil assinaturas por meio de um abaixo-assinado a favor da repavimentação da rodovia. Autora: Beatriz Farias |
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