FALA, BEIRADÃO!
Traz o estilo de vida dos ribeirinhos, suas tradições, seus hábitos, sua relação com a natureza, sua vida sobre os rios, seus artefatos e seu modo de viver.
Os povos ribeirinhos enfrentam dificuldades durante a sua adaptação no perímetro urbano, ocasionado por sua migração A vida urbana representa, no Brasil, enfrentar barreiras sociais, econômicas e culturais. Além dos habitantes das cidades, povos interioranos também necessitam de assistência, como é o caso das populações ribeirinhas que são afetadas por essas barreiras, consequentemente, forçadas a se moldarem às ‘soluções’ de acordo com a realidade a que estão submetidas. Na realidade, os ribeirinhos buscam novas oportunidades na cidade grande, mas encontram novos desafios. POVOS DOS RIOS A Amazônia é ocupada por uma diversidade de grupos étnicos e por populações tradicionais constituídas, a partir dos vários processos de colonização e miscigenação por que passou a região. Pode-se afirmar que o homem amazônico é resultado dos intercâmbios históricos entre diferentes povos e etnias. De acordo com o Decreto 6.040/2007, os povos e comunidades tradicionais são definidos como grupos culturalmente diferenciados que têm suas próprias formas de organização social. Eles possuem territórios e recursos naturais necessários para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovação e práticas gerados e transmitidos pela tradição, e um desses povos são os ribeirinhos. De acordo com o Instituto EcoBrasil, os povos ribeirinhos são aqueles que residem nas proximidades dos rios e têm a pesca artesanal como principal atividade de sobrevivência, além disso, cultivam pequenos roçados para consumo próprio e podem praticar atividades extrativistas e de subsistência. Possuem identidades próprias, sociocultural e política, cuja busca pela sobrevivência e relações estão interligadas à sua origem étnica, aos seus saberes e técnicas, à produção e de gestão dos recursos naturais e à garantia de sobrevivência e ao acesso a bens e serviços sociais. Nascida na comunidade de São Francisco – Curarizinho, no município de Carreiro da Várzea, Thaís Batista de Souza relata como era a vivência em sua comunidade. “A prefeitura disponibiliza uma vez por mês um barco que leva médicos, enfermeiros dentistas para a comunidade, e isso é o essencial para nós. Entretanto, o saneamento realmente é uma coisa que falta não só na minha comunidade, mas em outras também. Nós sofremos muito sem água tratada e ainda é mais comum no período de seca e no de cheia, onde boa parte dos ribeirinhos ficam doentes.” Com isso, as comunidades ribeirinhas convivem em realidades diferentes dos cidadãos urbanos, ficando à margem de uma série de políticas públicas e mecanismos de controle da qualidade de vida. A ausência de política pública efetiva que deveria alcançar todos, limitam para essas comunidades, tornando um dos principais fatores da migração para a cidade. DESAFIOS URBANOS
Segundo o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Estado do Amazonas, a população estimada, no ano de 2020, chegou a 2.063.547, o que representa um aumento de 14,51% em comparação com o Censo de 2010. A partir desses dados, é possível mensurar as formas de exclusões sociais, demográficas ou econômicas que as populações interioranas convivem em suas cidades. Thaís Souza comenta que ao deixar seu lar e morar com os parentes na cidade de Manaus resultou uma mudança impactante, pois o processo de adequação às regras da casa de outra pessoa, por mais que seja família, há barreiras emocionais, e ressalta que “quando cheguei em Manaus para morar, (que era um dos meus objetivos), o ar poluído, os ruídos de carros, resumindo, toda essa urbanização, não me fez tão bem, contudo, precisei me adaptar com os novos costumes”. Na realidade, essa migração é impulsionada por uma série de razões e motivações, que variam de acordo com os contextos social, econômico e ambiental, como exemplo a oportunidade de empregabilidade, no qual, buscam empregos formais com melhores salários e condições de trabalho. Outro fator é o acesso aos serviços básicos que eles desejam obter como a falta de infraestrutura de saneamento, eletricidade e saúde. Vale ressaltar que a migração de ribeirinhos representa a inclusão na caracterização demográfica, étnica e linguística no campo urbano, gerando demandas de serviços e produtos básicos. Muitas vezes, enfrentam dificuldades de adaptação, como falta de moradia adequada, discriminação, desemprego e marginalização social. Além disso, a migração em massa pode gerar pressão sobre os recursos urbanos e contribuir para o surgimento de favelas e problemas de infraestrutura nas cidades. O cotidiano dos ribeirinhos às margens dos rios e sob influência das dinâmicas dos fatores que constroem na socialização e adaptações durante a vivência na cidade, assim, o governo do munícipio deveria proporcionar ações nas comunidades ribeirinhas permitem a integração à zona urbana, favorecendo o contato e as relações interculturais com a nossa identidade manauara. Por: Cariston Souza
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Enfrentando o Lúpus como mulher afrodescendente, mestiça ou indígena na América Latina O Lúpus é uma doença autoimune crônica que pode afetar várias partes do corpo, incluindo pele, articulações, rins, coração, pulmões entre outros. “Ou seja, os anticorpos do paciente atacam as próprias células, em uma reação exagerada de proteção”, explicou o presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, Marco Loures, em entrevista concedida ao jornal Estadão (do estado de São Paulo) em outubro 2022. A causa exata do Lúpus é desconhecida, porém sabe-se que uma combinação de fatores genéticos, ambientais e hormonais pode desencadear a doença. Segundo Marcos Loures: “Existem dois tipos da doença: o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LER) e o Lúpus Cutâneo (LC). No LC, apenas a pele é comprometida, e é comum a formação de uma lesão nas bochechas e no nariz, a chamada borboleta. No LER, os tecidos internos do corpo podem ser atacados, como o dos rins que, é a principal preocupação da doença”. Embora o Lúpus possa afetar qualquer pessoa, a doença é mais comum em mulheres, especialmente aquelas de ascendência africana, mista ou indígena. Na américa latina, onde o Lúpus é uma preocupação crescente, as mulheres que vivem com Lúpus enfrentam uma série de desafios. Estudos recentes mostram que o Lúpus afeta mulheres com maior frequência do que os homens, como ressalta o reumatologista Marcos Loures, “a maior recorrência da doença é em mulheres jovens, entre 20 e 45 anos. Segundo a Associação Superando o Lúpus, dentre as pessoas que têm Lúpus, 91% são mulheres, o que representa uma a cada 1.700 no Brasil”, e acrescenta, “existe talvez uma predisposição hormonal, e é possível que o estrogênio seja uma das causas, mas não é uma coisa conceitual. Nós apenas orientamos que as mulheres com Lúpus não tomem anticoncepcional. Há disparidade étnica em relação à prevalência da doença. As mulheres de ascendência africana e mestiça, que existem em grande número na América Latina, têm maior probabilidade de desenvolver Lúpus do que as mulheres de outras etnias. De acordo com a Fundação Lúpus da América, as mulheres afro-americanas têm três vezes mais chances de desenvolver Lúpus do que as mulheres brancas. As razões para essa disparidade ainda não estão completamente claras. Estudos sugerem que fatores genéticos, ambientais e socioeconômicos podem estar envolvidos. Por exemplo, a exposição à luz solar e a deficiência de vitamina D podem aumentar o risco de contrair o Lúpus. Além do mais, a falta de acesso a cuidados médicos adequados e o estresse, relacionado ao racismo e à discriminação, podem contribuir para o maior risco de Lúpus em mulheres de ascendência africana e mestiça. Ainda não se sabe exatamente por que o Lúpus afeta mais as mulheres afrodescendentes e mestiças. No entanto, há algumas teorias que podem explicar essa tendência. Uma delas, é que a genética pode desempenhar um papel importante. Estudos mostram que algumas variantes genéticas estão associadas ao risco de Lúpus em populações de ascendência africana. Novamente em concordância com Marcos Loures, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia, em entrevista concedida ao jornal Estadão (do estado de São Paulo) em outubro 2022, na qual explicou, “o Lúpus tem fatores genéticos que causam uma predisposição à doença. Quando uma pessoa com propensão ao Lúpus passa por algum gatilho, ele pode se manifestar. Porém, esse “gatilho” ainda não foi entendido completamente pela comunidade médica. Se você tiver, por exemplo, uma predisposição familiar, nem todos na família têm essa resposta”. Além disso, acredita-se que a exposição a fatores ambientais, como a radiação ultravioleta, pode desencadear a doença em pessoas geneticamente predispostas. O Sol é um dos principais fatores que impactam na saúde da pessoa com Lúpus; a radiação solar pode ser causa de pioras ou de uma primeira manifestação da doença. “O sol, através da radiação ultravioleta, estimula na pele substâncias como proteínas que são modificadas. Assim, elas agem como uma substância estranha e o organismo reage contra ela”, como esclareceu Marcos Loures.
O diagnóstico de Lúpus pode ser desafiador em qualquer lugar do mundo, mas na América Latina há alguns desafios adicionais. Em muitos países da região, falta conscientização sobre o Lúpus e os sintomas associados à doença. Isso pode levar a um diagnóstico tardio e a um tratamento inadequado. Além disso, muitas pessoas na América Latina têm dificuldade em acessar serviços médicos de alta qualidade devido a fatores como pobreza, falta de seguro saúde e geografia. Segundo o presidente da Associação Superando o Lúpus, Eduardo Tenório, também em entrevista concedida ao jornal Estadão (do estado de São Paulo) em outubro 2022, “uma pessoa com sintomas pode demorar entre três e seis anos para chegar a um reumatologista. Além disso, existem poucos reumatologistas no Brasil. São 2.727 especialistas na área, sendo mais de 50% no Sudeste, segundo o último relatório de demografia médica do Conselho Nacional de Medicina (CRM).” Outro desafio é a falta de recursos especializados em Lúpus em muitas partes da América Latina. Os especialistas em Lúpus são escassos em muitos países da região, o que significa que muitos pacientes não recebem o tratamento adequado. O acesso ao tratamento e cuidados para o Lúpus é um problema grave na América Latina, o que significa que os pacientes podem não receber o tratamento adequado para gerenciar sua doença. Outro problema é a falta de apoio social e emocional para pacientes com Lúpus na América Latina. Muitas vezes, as pessoas com Lúpus enfrentam estigma e discriminação e podem se sentir isoladas e sem apoio. Isso pode ter um impacto negativo em sua saúde mental e física. É importante que os pacientes com Lúpus tenham acesso a grupos de apoio e aconselhamento para ajudá-los a lidar com as dificuldades da doença. Uma área de pesquisa importante é a genética do Lúpus em populações de ascendência africana e mestiça. Compreender melhor a genética do Lúpus pode ajudar a desenvolver novos tratamentos e terapias para ajudar os pacientes a gerenciar sua doença. Além do mais, é importante continuar pesquisando os fatores ambientais que podem desencadear o Lúpus em pessoas geneticamente predispostas. Isso pode ajudar a desenvolver estratégias de prevenção para reduzir o risco de Lúpus em pessoas de ascendência africana e mestiça. Embora os motivos da disparidade étnica da prevalência do Lúpus ainda não sejam completamente claros, é importante que haja mais investimento em pesquisa e conscientização sobre o Lúpus na América Latina. Também é importante que os pacientes com Lúpus tenham acesso a cuidados médicos de qualidade e apoio social e emocional para ajudá-los a lidar com os desafios da doença. Juntos, podemos trabalhar para melhorar a vida das pessoas afetadas pelo Lúpus na América Latina. Por: Rodrigo Problemas enfrentados pela população ribeirinha e talentos herdados de antepassados A comunidade ribeirinha enfrenta diversas dificuldades ao longo de sua vida, visto que a falta de saneamento básico é uma situação recorrente na região, essa condição a torna mais suscetível a doenças, por exemplo. De acordo com o Ministério da Saúde, em publicação realizada no ano de 2017, as condições insalubres de saúde e a precariedade do saneamento básico faz com que a população ribeirinha sofra de doenças gastrointestinais, sobretudo pelo consumo de água contaminada. O atendimento à saúde dessa população é feito através do trabalho das Equipes de Saúde das Famílias Ribeirinhas (ESFR), além do fornecimento das Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF). A população enfrenta instabilidade no acesso ao sistema de saúde, na locomoção e na inserção nas escolas ou universidades. Nesse sentido, é necessário entender essas comunidades como sujeitos de direitos não apenas em relação a posse de recursos naturais, mas acima de tudo, dos serviços públicos essenciais para uma vida digna, como políticas públicas de saúde, de educação e de profissionalização, para que esses povos tradicionais não tenham sua vivência suprimida pelo Estado. Segundo um levantamento realizado pelo Projeto Povos Ribeirinhos, em 2016, na matéria publicada pelo site O Globo Brasil, Renan França relata que há 37 mil moradores vivendo isolados à beira dos rios que cortam o maior estado brasileiro em área territorial. Os ribeirinhos estão localizados nas extremidades dos rios, flutuantes, igarapés, em terra firme, Igapós do Amazonas e outras partes do país. Em entrevista ao Ateliê Amazônico, o estudante de Relações Públicas da UFAM (Universidade Federal do Amazonas) e ribeirinho Enio Lincoln Oliveira Barbosa, 25 anos, relata sua vivência como habitante das margens dos rios: “Entre as principais dificuldades que nós enfrentamos está a insegurança, pois não existe polícia no interior. Ocorre muitas cheias, falta de assistência médica e jurídica. Não há emprego, além de não se ter salários dignos; não há sinal de telefonia, internet precária, gasolina tem um preço bem mais caro, assim como os alimentos. Tem uma coisa boa, eu aprendi uma atividade bastante interessante que é o artesanato. A principal forma de explorar talentos e habilidades nas comunidades ribeirinhas é oferecer educação e capacitação técnica ideal e de boa qualidade”. Talentos herdados de antepassados e oportunidades
As comunidades ribeirinhas possuem uma maior facilidade acerca da cultura e dos processos artesanais, visto que é uma tradição herdada pelos povos indígenas e, atualmente, tornou-se sinônimo de preservação da história e memória. De acordo com o portal Aurora Eco, em publicação feita no ano de 2021, na comunidade de Pinhel, localizada no rio Tapajós, a população teve como herança a cerâmica Tapajônica como atividade essencial e é classificada em dois tipos: o vaso de gargalo, onde prevalecem recursos zoomorfos, e também performance de rostos humanos (antropomorfos) nos bojos esféricos dos vasos. Durante sua produção, o barro é coletado na época da seca, às margens do rio e, depois de um processo de alguns dias, as peças são constituídas da mesma maneira que eram feitas há milhares de anos. Ainda segundo o portal, para os poucos ceramistas que ainda se dedicam à cerâmica Tapajônica, esse artesanato é uma forma de preservar a memória dos seus antepassados, seu modo de vida, a maneira como eles trabalhavam e, sobretudo, de resgatar a sua identidade indígena. Além disso, os ribeirinhos possuem diversos projetos voltados a essas comunidades, como o programa “Educação Ribeirinha” que é um projeto que visa a melhoria da educação em comunidades ribeirinhas, o qual beneficia mais de 400 discentes. A decisão foi apresentada em novembro de 2021 e foi elaborada pelo Programa de Educação para Sustentabilidade (PES) da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com ajuda do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado de Educação e Desporto (Seduc/AM), e com o auxílio de uma docente Therezinha Ruiz (PSDB). Os cursos ofertados dentro do programa acrescentam conhecimentos de educomunicação, técnicas de leitura e arte, e habilidades agroecológicas, possibilitando, deste modo, o progresso educativo dos ribeirinhos. Devemos atentar para um olhar idílico do povo ribeirinho, onde seja possível enxergar a rica diversidade histórica e cultural das populações tradicionais. São comunidades autênticas e originais, as quais não tiveram a sua identidade suprimida pela globalização. É necessário compreender que a história está em constante movimento, além de entender que a identidade das comunidades ribeirinhas na Região Amazônica depende da noção de sua cultura, seu modo de vida, sua territorialidade, seu conhecimento e suas práticas cotidianas. Por: Beatriz Guerra Como a vida de uma jovem ribeirinha se tornou viral nas redes sociais Acordar cedo e ir para os rios buscar alimento faz parte do cotidiano de muitos jovens que vivem no Amazonas entre as águas dos rios, dos lagos e a floresta. Para Ednara Maciel da Silva, 23, essa realidade transformou-se em oportunidade: 15 milhões de pessoas, em algum momento, pararam para vê-la “ticando” peixe e se revelarem impressionados com a habilidade da jovem nessa atividade que é parte do cotidiano de muitos amazonenses e amazônidas. Ednara Ribeirinha, como é conhecida, conta com 800 mil seguidores no TikTok e 273 mil no Instagram, que se tornaram ‘acompanhantes’ da sua rotina. Em entrevista ao Ateliê Amazônico, realizada no dia 28 de outubro, de forma on-line, Ednara Maciel da Silva aborda vários aspectos da vida ribeirinha na Amazônia. Ateliê Amazônico: Ednara, como é a vida no interior? Ednara: "É muito tranquila, um lugar de paz, com bastante trabalho. Pesco, vou para o roçado, faço farinha, ajudo meu pai nos serviços pesados e ajudo minha mãe também em casa; é um dia bem corrido, porém muito bom". Ateliê Amazônico: Como foi o processo de viralizar na internet e ficar conhecida como “Ednara Ribeirinha”? Ednara: "Comecei a postar vídeos apenas por postar, sem intenção mesmo, e aí viralizou. As pessoas começaram a pedir mais, e eu fui mostrando mais do meu dia a dia, e graças a Deus cresceram minhas redes. O povo gostou e estou crescendo cada vez mais. Fui participar do programa local Zappeando e teve mais visibilidade quando apareci na tv". Ateliê Amazônico: Algo mudou na sua vida depois do vídeo ter repercutido? Ednara: "Muita coisa, pois antigamente eu não tinha dinheiro. Hoje já consigo tirar uma graninha para mim. Tenho realizado alguns trabalhos de divulgação. Muitas pessoas já me reconhecem por aí, pedem fotos. É bem legal. Com isso, estou podendo ajudar minha família também com os trabalhos na internet. Já ganhei vários presentes; melhorou muito minha vida quando comecei ser valorizada digitalmente”. Ateliê Amazônico: Você acha que a visão das pessoas sobre os ribeirinhos, do Amazonas especificamente, em si mudou? Ednara: "Acredito que sim, pois sobre os ribeirinhos muitas pessoas nem sabiam o que eram, e agora já sabem, passam a querer saber mais da nossa cultura. Muita gente diz sentir vontade de viver tudo isso, que é um lugar de paz e de pessoas de uma boa energia. Sobre o Amazonas, também comparado com antes, acho que hoje alguns já enxergam de outra forma, não só por mim, mas por todo pessoal que carrega aí esse legado de mostrar mais do nosso Estado, de mostrarem que aqui é lindo e que temos muitas coisas legais para mostrar: lugares, comidas, a nossa cultura no geral”. Por: Sarah Freire
Moradores protestam contra mineradora Belo Sun “O minério de ferro mais puro do mundo”. Assim é conhecida a região da Serra dos Carajás. Localizada no sudeste do Pará, a extensa mina de ferro foi descoberta, em 1967, pelo geólogo Breno Augusto dos Santos e sua equipe de geólogos pertencente à Siderúrgica Americana US Steel, que na época fazia expedições no país em busca de manganês. Devido às riquezas da região, o estado do Pará passou a ser mundialmente conhecido pela fartura do minério, tornando-se a principal atividade econômica do Estado. O desenvolvimento exploratório da região foi tanto, que, em 2019, foi registrado pela economista Maria Amélia Enriquez como um salto de 23% para 47% da participação ativa do Estado no setor mineral no País. O destaque para que essa extensa área do país seja fortemente explorada para fins comerciais está ligado tanto a sua enorme riqueza natural quanto à alta lucratividade da exploração para as mineradoras. Para o professor João Márcio Palheta da Silva, que atua na Universidade Federal do Pará (UFPA), há benefícios para a região devido à exploração de minério: “Um dos pontos positivos para os municípios que estão sob a influência direta dos projetos de mineração na Amazônia, especialmente o estado do Pará, é a arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recurso Mineral (CFEM), que é um importante medidor financeiro da importância dos repasses de investimentos para os municípios e estados com expectativa em termos de ganhos econômicos a partir dos projetos das companhias mineradoras e de suas coligadas ou contratadas, e daqueles que virtualmente poderão ser implantados em seus territórios”, afirmou o geógrafo em entrevista dada ao Atêlie Amazônico. Entretanto, a CFEM não é tão ativa como deveria na região, prova disso são os baixos custos que as organizações internacionais prestam para a instalação e exploração da matéria prima, conhecido também como a "generosidade fiscal” da administração paraense. Para ilustrar tal realidade, é possível observar a discrepância da tributação e da lucratividade da empresa Vale no ano de 2020. A exploração de minério alcançou cerca de R$78,2 bilhões de lucro e o Estado só recolheu R$3.181,00 bilhões em tributos. Margem essa que atinge tanto o desenvolvimento do PIB do estado, passando pela preservação do ambiente diretamente explorado (solo), quanto à qualidade de vida dos paraenses que habitam a região - tornam-se isentos de benefícios básicos, como os empregos. Logo, o que deveria ser um ponto positivo acaba se tornando um ponto negativo para os municípios que estão sob a influência direta dos projetos de mineração na Amazônia, especialmente o estado do Pará. Senador José Porfírio, município do estado, é mais uma região que está sofrendo a expansão das empresas mineradoras, mais especificamente a canadense Belo Sun Mining Ltda. A mineradora, controlada pelo grupo Forbes & Manhattan - um banco de capital privado que investe em projetos de mineração mundo afora - lançou o Projeto Volta Grande de Mineração, em março de 2015, com o objetivo de se tornar a maior mina de exploração de ouro a céu aberto no País. Entretanto, assim como as áreas exploradas em Belo Monte, a exploração de minério em Senador Porfírio também afeta os habitantes da região, visto que a área de terra repassada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ao grupo canadense envolve 21 lotes do projeto de assentamento Ressaca - área extensa da região. Devido a enorme repercussão negativa dos impactos do projeto no Estado, no dia 5 de junho de 2022, moradores do município e locais próximos, protestaram contra a instalação e o funcionamento da mineradora Belo Sun. “Estamos reivindicando nossos direitos como agricultores. Queremos nossa terra para trabalhar e sustentar nossos filhos e famílias”, disse um dos líderes da ocupação em entrevista ao Repórter Brasil. A resistência dos agricultores que buscam a área para produção de alimentos se soma à dos indígenas que também não aceitam as ações da Belo Sun: "O governo está invadindo nosso território, querendo trazer mineração. Nós viemos aqui por causa da luta para consultar nossos parentes ribeirinhos e da pesca. Queremos que o Estado tome providência, queremos respeito ao nosso território e consulta prévia”, relatou um indígena munduruku para a Repórter Brasil. Resposta à imprensa
Sobre os protestos, a direção da empresa canadense Belo Sun se posicionou por meio de uma nota: “Recebemos denúncias de que a ocupação do último domingo (5 de junho de 2022) foi feita por “invasores” trazidos de micro-ônibus do sul do Pará. Adotaremos as medidas legais pertinentes para solucionar a situação e notificar a Polícia Civil local da invasão”. Não houve resposta do governo do estado do Pará quanto a ocupação e as denúncias feitas pelos ribeirinhos, agricultores, indígenas e habitantes da área, de acordo com reportagem publicada pelo Repórter do Brasil. Por: Thamires Lima Bandeira O Festival dos Rios reúne artistas jovens e tradicionais, feira de produtos de bioeconomia e fórum de debates O Festival dos Rios, inaugurado em junho de 2021, tem por compromisso apoiar a proteção dos territórios por meio da cultura, fortalecendo a cultura ribeirinha, os territórios, artesanatos, modo de vida, cultura alimentar e identidade. Promove a conservação da biodiversidade nas comunidades ribeirinhas dos rios da Amazônia e fortalece os negócios criados a partir do uso sustentável de recursos naturais. As atrações e o tema da segunda edição do Festival dos Rios foram definidos pela organização do evento, que aconteceu de 9 a 11 de junho na vila balneária de Alter do Chão em Santarém, um dos distritos administrativos do município de Santarém, no estado do Pará. Alter do Chão é bastante conhecido como o Caribe Amazônico. O lugar, que na verdade é uma famosa vila de pescadores, tem a posse de uma das praias de água doce mais belas do mundo. A segunda edição teve como tema: “Salve o nosso Tapajós”, que faz referência ao rio que banha Santarém e está ameaçado pela atividade garimpeira e pelo desmatamento. Idealizadora do Festival dos Rios, Marlena Soares afirma que o evento nasce exatamente para que as comunidades que vivem às margens dos rios da Amazônia sintam-se orgulhosas das suas origens. “Foi exatamente isso que eu ouvi das pessoas da região. Durante os dias de festival eu ouvi vários depoimentos que me emocionaram bastante e me dão forças para lutar por representatividade nos espaços", disse Marlena Soares em entrevista ao Ateliê Amazônico. O Regatão Cultural, em referência aos comerciantes que navegam nos rios e igarapés em pequenas embarcações, foi uma oportunidade para 20 negócios comunitários que foram selecionados para a feira de bioeconomia. As comunidades, de acordo com Marlena Soares, realizam um trabalho essencial para a saúde do planeta Terra e são fundamentais na mitigação dos impactos das mudanças climáticas. Essa compreensão compõe o processo de curadoria pensado para que elas estivessem dentro do festival, ampliando a visibilidade “para fortalecer a luta diária do povo, assim como, para resgatar a valorização dos produtos da nossa gente, da nossa terra e território”. Outro aspecto ressaltado por Marlena Soares é a presença de mulheres no Regatão Cultural. Elas são a maioria dos participantes, são indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhas. Fórum de Debates
Além da feira de bioeconomia, a programação conta com um fórum de debates que objetiva discutir o papel da cultura ribeirinha como fortalecimento do território. Também há uma programação multicultural, tendo atrações como: As Karuanas, Chico Malta, Silvan Galvão, Paulinho Barreto, Osmarindo e Hermes Caldeira, para amplificar as vozes das comunidades ribeirinhas. "O Festival dos Rios é um projeto de vida. Acreditamos que é preciso, primeiramente, potencializar a nossa gente, o nosso território, a nossa região. Precisamos ser protagonistas dos nossos festivais e produzir para a gente mesmo. A ideia é fazer em outras cidades da região e em comunidades rurais. Vai ser lindo fazer um festival dos rios num território quilombola, por exemplo”, projeta Marlena Soares. Para ela, o festival dos rios é sobre afirmar a nossa capacidade de fazer com responsabilidade, do nosso jeito e com a nossa gente. Fazer fora do Norte ainda não está nos nossos planos atuais, precisamos de dinheiro para fazer muita coisa, mas quem sabe? Eu e Zek (um dos produtores do festival) ficamos viajando em tudo que queremos fazer e já estamos felizes com o impacto positivo que estamos construindo coletivamente", disse. O rio Tapajós, conhecido por suas águas limpas e claras foi manchete nos principais veículos de imprensa do Brasil por conta da mudança na coloração das águas, devido a atividade garimpeira e o desmatamento ilegal ao longo de sua margem. O Festival dos Rios é um instrumento de oposição à destruição. Por Laura Santiago A conectividade, seja ela via rede de telefonia ou internet, é o principal meio para socialização de pessoas no mundo inteiro. Além de estar presente no ambiente de trabalho, a internet- que possui grande destaque nessa conexão- faz parte essencial no cotidiano de três a cada quatro pessoas, o que corresponde a cerca de 134 milhões de pessoas conectadas somente no Brasil (Comitê Gestor da Internet no Brasil [CGI.br], 2020). Prova do papel essencial e ativo das redes de conexão no mundo, foi a sua importância durante a pandemia da Covid-19. Segundo o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), foi registrado um aumento exponencial do uso de internet e telefone devido ao lockdown adotado por diversos países para o combate ao coronavírus. Além disso, a população mundial teve que se adequar às novas plataformas de ensino e atividades trabalhistas, como o ensino remoto (aulas on-line), para estudantes dos ensino fundamental, médio e superior e o home office (trabalho on-line) para profissionais de todas as áreas. Apesar da alta expansão da acessibilidade da internet e da rede telefônica em todo o país, ainda há, de forma massiva, a desigualdade regional, socioeconômica e territorial do ambiente on-line e telefônico em áreas mais isoladas do Brasil, mais especificamente do Amazonas. Os povos ribeirinhos, residentes de municípios que ficam perto de rios, são um exemplo de população que sofre a fraca e praticamente inacessíveis internet e rede telefônica todos os dias durante o ano. “JÁ FIQUEI QUATRO DIAS SEM SINAL NO CELULAR. NÃO CONSIGO CONVERSAR OU FAZER UM PIX PARA AJUDAR MINHA FILHA QUE ESTUDA NA ARGENTINA”, AFIRMA A RIBEIRINHA IRINETE CORREIA. A agricultora de 35 anos, Simone do Nascimento Lima, moradora da Comunidade Costa do Terra Nova, localizada no município de Careiro da Várzea, relata em resposta ao Ateliê Amazônico como funciona a rede telefônica e de internet no seu dia a dia: “A rede telefônica é boa porém a internet não é 100%. Não consigo fazer inscrições para cursos ou algum benefício se for com a internet do telefone, a não ser que seja pelo Wi-Fi”, disse Simone. Outro ponto destacado pela agricultora foi a dificuldade no ensino à distância: “No momento estou cursando faculdade EAD de serviço social pela UNIASSELVI. Tive que fazer um trabalho e anexar, mas devido ao sinal de internet, demorei mais de um dia para conseguir entregar”, destaca. Além dos ribeirinhos, profissionais da área da saúde que atuam nessas regiões também são afetados pelo fraco sinal de telefone e de internet nos municípios. A psicóloga Rosana Karine Simas Araújo, de 40 anos, que trabalha na prefeitura municipal de Careiro da Várzea, no distrito Terra Nova, apontou diversos entraves na realização de seu trabalho devido a essa realidade: “Sou psicóloga e às vezes necessitamos de atendimento com psiquiatra. Dessa forma precisamos de uma rede de WI-FI mas a internet possui muita instabilidade, não chega aos barcos, mesmo o município estando somente a 25 km distante de Manaus. A rede de telefonia tem enorme oscilação onde não é possível realizar as consultas via telemedicina, fazendo com que o paciente tenha que se deslocar para a sede de outro município”, aponta a psicóloga. Serviço
A fim de levar internet para áreas isoladas na Amazônia, mais precisamente as comunidades ribeirinhas do Amazonas, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com a rede comercial Americanas, lançou em 2018 um projeto que busca atender à carência dessa população. A partir da distribuição de aparelhos eletrônicos e pacotes de internet, o projeto, que já atingiu mais de 1.400 pessoas, impactou positivamente a vida de muitos ribeirinhos que necessitam dessa ferramenta, tanto para fins de comunicação social, quanto para acesso à saúde, educação, informação, entre outros serviços básicos. Em entrevista à FAS, o professor de educação indígena Mário dos Santos Cruz relata o efeito da chegada da internet em seu ambiente de trabalho: “Contribuiu no processo de reflexão e planejamento dos projetos da comunidade. A internet é essencial para participar e expressar sua opinião”, afirma o professor. Por Thamires Bandeira Referências: https://cetic.br/media/docs/publicacoes/6/20210805093039/psi_ano13_n2_internet_para_todas_as_pessoas.pdf https://fas-amazonia.org/projeto-leva-internet-para-comunidades-isoladas-na-amazonia/ O estado do Amazonas, com seus mais de 3 milhões de habitantes, possuía em 2010 cerca de 20% da população, que equivale a mais de 700 mil pessoas, as quais residiam em zonas rurais e nas margens dos rios. Segundo o censo demográfico feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), esses moradores são popularmente conhecidos como “ribeirinhos”. Os ribeirinhos são a junção de diferentes povos, como indígenas e imigrantes, que ocupam localidades próximas aos rios e dele retiram seu sustento. A pesca é uma atividade muito comum em meio a essas comunidades, entretanto um dos problemas enfrentados é o consumo de mercúrio lançado nas águas dos rios por garimpeiros que, além de prejudicarem e poluírem o meio ambiente, também afetam fortemente a saúde dos povos ribeirinhos que consomem os peixes contaminados com o mercúrio. As condições sanitárias em que vivem essas famílias são precárias, pois o saneamento básico que geralmente é concentrado nos grandes centros urbanos não chegam aos ribeirinhos, pelos mais variados fatores, entre eles estão a distância e a dificuldade de acesso às comunidades mais isoladas e o descaso e a negligência governamental. Durante a pandemia de Covid-19, o distanciamento social entre essas comunidades foi facilitado devido ao afastamento das casas pelos rios. Isso os protegeu por um período de tempo do contato com pessoas contaminadas na cidade, mas por outro lado houve escassez de comida devido à cheia do Rio Negro, o que agravou o estado de saúde dos ribeirinhos, que além de sofrerem com o medo de contrair o coronavírus também passaram a lidar com a fome. Outra situação que provoca o adoecimento dessas pessoas é a ausência de água potável. Apesar de viverem cercados pelas águas dos rios, elas não são apropriadas para o consumo, pois sem o tratamento adequado, esses corpos d´água contém microorganismos que causam diarreias e outras patologias relacionadas. O lixo é uma questão que também preocupa, pois o descarte inadequado no rio acaba sendo uma opção quando não há barcos que coletam esse material. O estudante universitário Micael Caxias Machado, morador de Manaus, mas que possui familiares que residem na comunidade ribeirinha do Lago do Araçá, localizada no município Careiro Castanho, interior do Amazonas, relata as condições de vida e as dificuldades relacionadas ao saneamento do local. Dificuldades que ele presenciou ao passar um período de tempo na comunidade: "O encanamento é péssimo. Volta e meia os vizinhos precisam pegar baldes com água do rio para beber. A limpeza são os próprios moradores que fazem, que têm que lidar quando a cheia está acontecendo, aí colocam sacos de seixo ou areia para água não invadir a casa e alagar tudo. Alí, são os próprios moradores por si mesmos" Ao ser perguntado sobre o acesso a serviços básicos de saúde, ele responde: "A questão da saúde não é nada acessível. Falta muito medicamento. Se for um caso de urgência, você tem que pegar balsa ou barco. Você tem que vir para Manaus para resolver; nada é perto. Se você estiver em Autazes, tem que primeiro vir para Araçá. Você tem que se locomover de qualquer jeito; não é acessível". A comunidade do Araçá é apenas um exemplo do quão abandonados pelos setores públicos são os povos ribeirinhos e como sobrevivem apenas da ajuda mútua entre eles, principalmente quando as cheias dos rios atingem suas casas e prejudicam ainda mais seu acesso à saúde, não tendo as condições sanitárias dignas, que deveriam ser um direito básico de qualquer cidadão.
Por Yasmin Siqueira A vida sob as águas é mais comum do que se imagina nos afluentes do Rio Amazonas: casas flutuantes, palafitas, comércios flutuantes, escolas e até igrejas. Como é o caso da comunidade Catalão, localizada entre os rios Negro e Solimões, no município de Iranduba, interior do Amazonas. Esta é composta por mais de 100 casas construídas para boiar no rio, apoiadas em cima de grandes toras de madeira retiradas de árvores conhecidas como “açacu”. A partir de 1912, com o declínio do ciclo da borracha, período que marcou a História do Amazonas, a população da capital aumentou consideravelmente, várias famílias se viram obrigadas a se instalar na beira ou dentro dos rios, motivadas pela crise econômica que se instaurou no estado, dessa maneira surgiram as casas e as comunidades flutuantes. A dificuldade em habitar esses lugares está exatamente associada à locomoção, que é possibilitada apenas com o uso de barcos, canoas, botes etc. Cada família possui pelo menos um barco próprio para conseguir percorrer essas ruas feitas de água. Outra dificuldade enfrentada por moradores de casas flutuantes é o acesso a saneamento básico, água potável e acompanhamento médico. O esgoto é jogado diretamente no rio, que segundo moradores, não deixa mau cheiro por ser levado junto com a correnteza. Quando precisam buscar atendimento médico, fazem uma viagem de barco até a unidade mais próxima, na cidade de Manaus. Apesar de tantas dificuldades, moradores relatam ter uma vida tranquila e com segurança na comunidade do Catalão. A líder da comunidade, dona Raimunda Ferreira fala que novos moradores não são aceitos no local, a não ser que sejam parentes daqueles que já habitam lá, ela fala que não há mais condições de receber mais pessoas de fora na comunidade: Raimunda: Hoje a gente não aceita mais ninguém de fora. Repórter: Não pode vir pra cá? Raimunda: Não pode porque hoje nós temos espaço. Onde chegar você coloca. Mas daqui a alguns meses, não tem. Então já começa aquele problema ‘esse canto é meu’, que fica tudo aqui grudadinho. Mas continua crescendo. Todo ano tem uma casa a mais. Olga D'arc Pimentel, moradora de uma casa flutuante mais isolada, dentro de uma reserva de proteção ambiental, relata que saiu do Rio de Janeiro porque estava cansada da modernidade da cidade e sonhava morar na Amazônia, para apreciar o contato com a natureza e com os rios. Além das comunidades habitacionais, também existem no Amazonas casas flutuantes que são alugadas para quem deseja ter a experiência de passar um dia ou fazer um evento em meio aos rios. Atualmente, esses "flutuantes'' ganham cada vez mais espaço e atenção de turistas e moradores da região. Cada vez mais modernizados, os flutuantes alugáveis são vistos como uma das principais opções de lazer no Amazonas, os preços variam de acordo com o tipo de flutuante e de quanto tempo a pessoa deseja passar no local.
É possível observar o contraste social presente até mesmo na vida sobre as águas, entre aqueles que sentiram a necessidade de se instalar nos rios porque não encontraram espaço para viver em terra firme e aqueles que, por vontade própria, escolhem passar finais de semana em luxuosos hotéis flutuantes. Por Yasmin Siqueira Referências Entrevista reproduzida do portal G1: https://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2013/08/no-amazonas-106-casas-flutuantes-abrigam-comunidade-catalao.html Um dos grandes protagonistas da culinária amazonense é o peixe. Pratos como tambaqui assado e caldeirada são tradição no almoço de domingo. É perceptível que a pesca é muito presente na história amazonense, desde as origens dos povos da região. A prática da pesca tem importância para economia do Estado do Amazonas. Dados do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas, (IDAM) informam que mais de 45 mil pescadores vivem diretamente da atividade. A pesca predatória é ilegal, afeta diretamente o setor e afeta a vida de toda a população. Entre impactos gerados pela prática ilegal está a redução populacional de diversas espécies de peixes, agravando a sobrevivência das ameaçadas de extinção. Esse tipo atividade consiste na retirada de unidades de uma população natural em uma velocidade superior à capacidade de reprodução. As espécies de botos também são prejudicadas devido à captura ilegal do mamífero, cuja carne é utilizada como isca na pesca de pirapitingas, peixe bastante consumido no Amazonas. A engenheira de pesca Alcelene Salerno destaca: “A pesca predatória de botos-cor-de-rosa, algumas vezes, é realizada por pescadores sem registro no Ministério da Pesca, mas também é feita por pescadores regularizados”. Estudos da Universidade de Dundee, no Reino Unido, preveem que a população de golfinhos de água doce, como os botos são conhecidos, diminua em pelo menos 95%, no prazo aproximado de 50 anos, em consequência da prática ilegal. De acordo com Alcelene Salerno, dentre as medidas tomadas no Estado do Amazonas estão incluídas palestras nas comunidades ribeirinhas, distribuição de panfletos e conscientização nas escolas rurais, iniciativas que a engenheira considera positivas como meio de esclarecer e criar alianças para proteger os botos. Para coibir a pesca ilegal e garantir o tempo de reprodução das espécies, foi implantado pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) o período de defeso. O objetivo é garantir a reprodução das espécies nos rios do Estado do Amazonas, enquanto proíbe a sua captura por um determinado período de tempo. Na bacia Amazônica, o início do defeso é estabelecido durante o período reprodutivo e acontece anualmente. No ano de 2021, o início do período de defeso teve início em novembro, e segue até março deste ano de 2022.
Para a população ribeirinha, onde há a prática da pesca de subsistência, organizações como o Instituto Mamirauá, capacitam pescadores da região. Com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Instituto já promoveu mais de 120 cursos, de acordo com o portal Agência Brasil. Um dos programas ofertados é o Programa de Manejo de Pesca, criado em 1988. Entre as atividades do projeto estão incluídas o manejo sustentável de peixes ornamentais e o monitoramento do desembarque pesqueiro. Outro programa que visa a instrução de comunidades ribeirinhas do estado é o Projeto Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL Brasil). De acordo com o site The World Bank, em 2020, o projeto ajudou a estabelecer acordos que definem as práticas e as diretrizes de pesca permitidas para os pescadores nas comunidades do Estado. Essa adesão beneficia mais de 700 famílias e 1.000 pescadores. Por meio dos acordos estabelecidos, foi feita a proibição do uso de determinados equipamentos e métodos de pesca, como o lançamento de redes no leito do rio. A ASL Brasil e o Instituto Mamirauá não somente instruem comunidades pelo Amazonas, essas organizações também auxiliam na preservação ambiental. De acordo com o Instituto de Conservação da Biodiversidade Chico Mendes (ICMBio), 180 espécies de peixe estão sob risco de extinção na Região. Por meio da pesca consciente é possível evitar que espécies como o pacu sumam do mapa da pesca, assim como evita a fome de comunidades que dependem da atividade para sua subsistência. Mas é importante ressaltar que a pesca na Amazônia é mais que comércio, ela é cultura! Por Carolyne Veras |
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