Duas histórias de vida com repercussão na vida de uma cidade, Manaus, de um estado, Amazonas, de uma região, Amazônia, e geradoras de impactos no mundo. Uma a da saga da família Benchimol marcada pela construção de empreendimentos e pelo gosto de aprender e ensinar, como o fez o economista e professor universitário Samuel Benchimol, autor de 150 livros, cientista e defensor da floresta amazônica. A outra, a da estudante universitária Rebeca Ferreira, do povo Munduruku, cofundadora do coletivo MI Moda Indígena, um projeto por meio do qual a multiculturalidade se apresenta e faz alianças pluriversais.
São esses temperos que o Ateliê Amazônico põe à mesa nesta edição e faz o convite à leitura com sabor de banquete. Os Benchimol, donos da rede de lojas Bemol, ora em processo de diversificação, com farmácias e minimercados, e da Fogás, são parte do enredo das famílias que imigraram para a Amazônia e, nela, se fixaram e se tornaram também história. Rebeca, a jovem indígena, é a expressão dos povos originários que na capital amazonense enfrenta o racismo, usa o por quê para responder as indagações que ela mesma aprendeu a formular diante de tentativas de silenciamento da presença indígena nas sociedades amazônicas e brasileira. Por meio da moda, Rebeca responde em discursos coloridos, cortes e recortes e acessórios comuns às culturas dos povos indígenas do Amazonas. Professora Ivânia Vieira
0 Comments
Assunto atrativo, mas com dois enfoques diferentes e interessantes, caro leitor. É o que traz o Ateliê Amazônico desta semana. A abordagem retrata uma das mais grandiosas festividades do nosso Brasil varonil: o Carnaval. Que lembremos: já foi desprezado e amaldiçoado por muitos, incluindo políticos. Vá lá entender!
Na Editoria Cumbuca Cultural o Carnaval é retratado de uma maneira lúdica, até compassiva, evidenciando a importância desse evento para a cultura e a economia de Manaus, em que se ressalta a sua história e a diversidade de atividades vinculadas a essa modalidade festiva, como é o caso de um outro evento grandioso, o CarnaBoi. Traz também uma entrevista com um carnavalesco de uma escola de samba. Vamos sambar, gente! Mas outro assunto importante discutido na Editoria Amazone-se diz respeito ao aumento alarmante de casos de infecções sexualmente transmissíveis, como é o caso da Aids, em que pessoas se contaminam acreditando que não correm risco por serem “jovens demais para morrer”. Utilizou-se para destacar a situação o nome de um filme famoso. Pautando na fala de especialista, o texto expõe o cenário assustador pelo qual passa o Brasil durante as suas grandes festas, como é o caso do Carnaval. Professora Célia Carvalho A cultura conjugada no plural é o destaque desta edição do Ateliê Amazônico. Os estudantes Leticia Victoria e Cariston Souza, da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC-UFAM), apresentam em dois momentos detalhes da diversidade cultural na Amazônia a partir do Amazonas.
O consumo do pescado que tem na região a maior taxa mundial, a vida de pescadores, suas tecnologias e histórias são um convite para conhecer esse universo, feito em formato de matéria jornalística. Conhece a espécie caratinga? Sabia que em uma comunidade existe a festa desse peixe? Os marubos é o outro itinerário de descobertas. Suas cosmologia e cosmovisão são apresentadas em fragmentos que estimulam a vontade de querer saber mais e ampliar a leitura sobre esse povo. No texto, são fornecidas informações sobre onde vivem, como se alimentam, a forma de caçar e de pescar, o modelo de habitação, as pinturas e mito de origem. Tanto os pescadores comunitários quanto os marubos são vítimas de ataques e necessitam, na atualidade, de apoio e do cuidado solidário para assegurarem seus direitos e o direito de permanecerem como pescadores familiares, tendo os lugares de pesca e o pescado, e os marubos como povo. As legislações que foram criadas para proteger a pesca comunitária, o pescado, os rios e os lagos, e a vida dos povos indígenas são violadas e, com frequência, a invasão dessas áreas têm gerado desespero e mortes. Conhecer é também uma possibilidade de ampliar o interesse em participar das redes de apoio aos pequenos pescadores e aos marubos. Professora Ivânia Vieira Na primeira edição de 2024, o Ateliê Amazônico aborda temas de impacto na sociedade amazonense, panamazônica e mundial: a seca dos rios com destaque a do Negro remetendo a acontecimentos registrados há 121 anos; e o quadro de conflitos nos países da Pan-Amazônia.
Na história dos rios, as águas desapareceram no último trimestre de 2023. A cidade de Manaus, banhada pelo rio Negro, margem esquerda, viveu a agonia da terra rachada. Acostumada a olhar para o cenário majestoso formado pelo Negro, descobriu na agonia e na dor os alertas da natureza afunilando o rio, ampliando as áreas de terra à vista, criando barreiras. As estradas fluviais não puderem mais ser utilizadas. Desemprego, fome, isolamento, falta de acesso à água potável passaram a ser realidade, não única. Muitos dos não humanos que vivem no e a partir desse ecossistema morreram em grande quantidade. Ainda falta o inventário mais completo sobre as perdas com a seca de 2023 na Amazônia. Na outra face da seca, vestígios de cidades, submersos, apareceram e convocam a outras leituras da história humana na região. Remetem a outros conhecimentos sobre as andanças de povos originários. Na história dos governos e da disputa pelo comando do mundo, as guerras permanecem como trunfos de alguns, submetem populações ao abandono e à morte enquanto chefes do poder executivo tentam justificar a destinação de milhares em recursos financeiros para material bélico. Na região da Pan-Amazônia, o fomento aos conflitos e o avanço de determinados movimentos político-religioso e de narcotraficantes exigem ação estratégica para enfrentar as consequências nas fronteiras e para além delas desses posicionamentos. A diplomacia brasileira é desafiada a encontrar um espaço de atuação que incentive o diálogo e a superação das tensões alimentadas que podem ser elevadas a confrontos graves. É um 2024 que começa oferecendo sinais aos que quiserem ver e agir em nome da convivência civilizada. Professora Ivânia Vieira A profissão de jornalista requer por parte de quem a abraça um discernimento claro sobre o mundo, isso porque a sua função básica é formar opiniões, ancoradas as suas pautas sempre na verdade. Acreditamos no que está escrito nos jornais.
Mas para que o jornalismo cumpra o seu papel é necessário que ele seja exercido em uma democracia, amplamente respeitada por todos os segmentos da sociedade. O Brasil passou por um período conturbado de sua história quando da instalação do governo militar, que cerceou a liberdade de expressão de jornalistas, calados, muitas das vezes, com a própria morte. Esse assunto, que nos abala só em pensar no golpe militar que sofremos, está sendo discutido na editoria Amazone-se. E outra pauta abordada no Ateliê Amazônico desta semana, na editoria Fala, Beiradão!, diz respeito à migração dos ribeirinhos para a área urbana em busca de melhores condições de vida, nos quesitos educação, saúde e economia. Entretanto, sabe-se que Manaus está inchando, com vários bolsões de pobreza espalhados em seu entorno. E a melhoria de vida que os ribeirinhos buscavam poderá se tornar em um pesadelo, visto que há moradias em locais sem saneamento básico, sem iluminação, sem policiamento, distanciando-se do ideal almejado por eles. Boa leitura! A gente se vê por aqui. Professora Célia Carvalho A organização das estrelas no céu constitui-se em referência espaço-temporal para o povo tukano compor a forma como relata o ciclo anual, de acordo com pesquisas acadêmicas sobre essa etnia. Nesta edição do Ateliê Amazônico um pouco mais da história dos tukanos é apresentada como convite para mergulhos mais profundos.
Os tukanos somam 6.241 pessoas (dados da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN/ 2005) e vivem às margens do rio Uaupés e de seus afluentes (Tiqué, Papuri, Querari entre outros). Como vivem, quais os seus rituais, as brincadeiras, a cultura são alguns dos aspectos abordados na matéria “Cultura do povo Tukano”. E na viagem dos aprendizados, o rio Amazonas é o tema da outra matéria de destaque desta publicação. História, importância, disputas, exploração e ameaças reais diante de novos projetos envolvendo a extração do petróleo. É um debate deste momento de interesse nacional, amazônico e global. A maior estrada fluvial do mundo envolve imaginário como abrigo de narrativas de todos os gêneros, sustenta um dos mais complexos ecossistemas da terra, atravessa a floresta amazônica e abriga a maior biodiversidade do planeta. Entre as lendas e a realidade, as águas do Amazonas comandam a vida e, se não cuidado com a atenção que merece, o rio pode pronunciar-se noutra direção diante das contaminações química, por agrotóxicos, microplásticos, desmatamento, queimadas e o processo de assoreamento. Sem ignorar o que os pesquisadores denominam de ‘contaminação invisível”. Ao tukanos em especifico e os povos indígenas, em geral, bem como o rio Amazonas e os demais rios, lagos, igarapés, dependem das nossas atitudes. Boa leitura! Professora Ivânia Vieira No seu mais recente livro, Futuro Ancestral, Ailton Krenak indica que se confunde com a natureza em sentido amplo, se entendo como uma extensão dela, o que o permite ter a experiência de um sujeito coletivo. Eu sei que a maioria das vezes que eu escrevo um editorial eu recorro aos ensinamentos de Krenak.
Mas para mim não tem como ser diferente: ele é um dos responsáveis por me fazer refletir, constantemente, sobre o nosso modo de viver, de ser, de estar no mundo, de consumir. São reflexões importantíssimas, que nos salvam, literalmente. Veja, por exemplo, o caso da matéria “Como a monocultura do óleo de palma afeta a Amazônia”: nela, você encontra informações valiosas sobre como o beneficiamento do dendê, em forma de um produto usado em muitos alimentos ultra processados, pode poluir mananciais, prejudicar o solo e comprometer o nosso futuro. A matéria não chega a abordar diretamente, mas o óleo de palma, extraído do dendê, não é um produto saudável: seu consumo excessivo pode causar diabetes, aumento de taxas de colesterol ruim, alguns carcinomas e outras doenças crônicas. Então, cara pessoa que nos lê, cuidado com o consumo de cremes de avelã, de margarinas, de sorvetes e de outros produtos feitos com base no óleo de palma. Você pode estar se envenenando sem nem ter consciência. Para isso, há remédio: leia o rótulo do que você consome e procure ingerir mais alimentos naturais. Dá trabalho, é difícil, mas só assim para garantirmos um futuro saudável para nós mesmos e para o planeta. Esse é o remédio amargo. O remédio doce é ler Krenak, em seus livros pequenos, aparentemente simples, mas muito significativo para quem quer pensar em outro modo de viver no mundo. A outra matéria desta semana, “Quebrando o estigma: Lúpus da América Latina”, é um incômodo só, uma vez que aborda uma doença que pouco se sabe a respeito, mas que tem mira certa: mulheres, em sua maioria afrodescendentes. Após abordar sintomas e formas de cuidado, a matéria chega à conclusão de que só políticas públicas serão capazes de permitir a compreensão e a cura do Lúpus. As matérias desta semana estão densas, difíceis, eu sei. Mas também abordam assuntos necessários. E a nós, cabe recorrer ao Krenak, na sua busca por um futuro que, para dar certo, precisa voltar às suas raízes em busca de uma vida mais natural e mais livre das desnecessidades que nos tiram a saúde, o sono e o dinheiro. Boa leitura! Professora Aline Lira Com um grande número brasileiros sofrendo de pressão alta, o Brasil está no ranking dos países em que essa doença é considerada como uma das principais causas de morte. Os dados são alarmantes, considerando-se que a doença não está mais restrita a grupos de pessoas mais velhas, está atingindo também jovens. Várias são as causas para a pressão alta, começando pela má alimentação e a falta de exercícios físicos. É um caso sério de saúde pública.
Mas você pode mudar sua vida adquirindo hábitos saudáveis, aproveitando o que a Amazônia oferece. Aqui na Região tem-se uma variedade de frutas disponíveis para o combate à pressão alta, como o cupuaçu, o açaí e a castanha-do-Pará. Muitas vezes, trocamos esses alimentos saudáveis pelos processados que causam um mal danado à nossa saúde. Esse assunto está sendo discutido na editoria Aquarela Amazônica. Outro destaque no Ateliê Amazônico desta semana é sobre a popularização dos stand-ups na cidade de Manaus, atraindo um público interessado nesse tipo de diversão. Como todo começo, os artistas têm buscando regionalizar as suas falas e assim conquistar os manauaras, tecendo suas críticas sobre os mais diversos temas. Tem-se que ter em mente que rir também é um ótimo remédio. Esse texto você está disponível na editoria Cumbuca Cultural. Boa leitura! A gente se vê por aqui. Professora Célia Carvalho As formas de resistir e viver estão delineadas nas matérias desta edição do Ateliê Amazônico. Uma delas conta a história da árvore pau-brasil parte da história brasileira como se raízes, troncos, galhos e flores se alongassem em gestos afetuosos não respeitados por uma parcela dos humanos.
Da árvore utiliza-se tudo. Conhecida como “madeira de lei”, tornou-se objeto de disputa entre os primeiros invasores e recebeu atenção especial do governo português. A madeira firme de longa durabilidade foi utilizada na fabricação de móveis, instrumentos musicais e outras tantas peças. A tinta, de cor avermelhada, serviu para tingimentos os mais diversos. O pau-brasil chega a este século como uma das espécies ameaçadas de extinção. Desde o ano de 2004, a legislação brasileira tenta garantir vida à árvore e retirá-la da lista de risco, não pode ser explorada para fins comerciais. A exceção é para a fabricação de arco de violinos, mas a fragilidade da fiscalização e o desmantelamento das estruturas de controle e fiscalização nos últimos quatro anos podem ser facilitadores da derruba e do comercio ilegal da madeira. A outra matéria trata do sincretismo religioso no Brasil. Apresenta aspectos das estratégias utilizadas pelos negros escravizados para manter seus rituais e crenças, as suas culturas. A partir dos cultos africanos e na soma dos rituais indígenas e do catolicismo, a umbanda agrega e se expressa em diferentes regiões. No país laico, as religiões de matriz africana são tratadas pelo viés racista e seus praticantes, muitos deles perseguidos e até mortos. Os terreiros, territórios sagrados, são violados e apresentados, de forma recorrente, como locais de práticas indevidas. Conhecer e compreender o sincretismo religioso é um passo para uma leitura mais ampliada sobre o tema no Brasil e a necessidade de assegurar os direitos aos que estão filiados às religiões de matriz africana. Boa leitura! Professora Ivânia Vieira Há pouco tempo li o novo livro do Ailton Krenak, Futuro Ancestral. A cada página, um ensinamento. Frases que à primeira vista podem parecer simples, mas um olhar mais atento nos mostra o quanto ainda temos a aprender a respeito de florestania, de adiar o fim do mundo, da concepção de um Estado plurinacional em detrimento deste, que possui um DNA pirata e bandeirante, como bem pontua o autor.
Krenak publicou muitos livros nos últimos anos, alguns bem conhecidos, como Ideias para adiar o fim do mundo, e outros nem tanto, como Lugares de Origem, escrito em parceria com Yussef Campos. E os ensinamentos de cada um dos livros – sim, li a maioria – são tantos, que um editorial não seria suficiente para convencer você, caro leitor, a parar tudo o que está fazendo e tentar, mesmo que por uns instantes, ver o mundo com os olhos desse autor enquanto se delicia e se incomoda com a leitura de seus livros. Mas esse editorial não é sobre o Krenak, exatamente. Até aqui falei do indígena talvez mais famoso do Brasil, com uma produção invejável e que por algum motivo conseguiu furar a bolha do pensamento colonizado e trazer outras ideias e outras formas de pensar, principalmente para quem vive em um mundo feito de concreto, de asfalto e de máquinas. E se esse editorial não é sobre Krenak, sobre o que é então? Sim, é sobre os povos originários e os seus saberes, que na concepção de um Estado plurinacional seriam muito mais valorizados, ouvidos e compreendidos... Fico aqui pensando em quantos outros Krenaks, Kaiapós, Apurinãs, Muras, Yanonamis, só para citar alguns, possuem igual ou maior sabedoria que o Ailton. E que passam despercebidos aos nossos olhos porque as telas e os algoritmos viram nossos olhos para outra direção. Nossa forma de viver, já está mais que provado, não tem funcionado muito bem. Resta-nos ter humildade para compreender que temos muito a aprender e muito pouco a ensinar a respeito de determinados temas, principalmente com relação ao meio ambiente. Só assim será possível adiar o fim do mundo. Para começar, esta semana, as duas matérias que você lê no Ateliê Amazônico trazem histórias de homens e mulheres indígenas com vidas absolutamente diferentes da nossa. E nos lembram: o quanto ainda precisamos caminhar para traçar um futuro ancorado na ancestralidade. Boa leitura! Professora Aline Lira |
|